De Christoph Waltz a Alfonso Cuáron, Caio Pimenta traz as vitórias mais indiscutíveis do Oscar nos anos 2010.

ANIMAÇÃO A DOCUMENTÁRIO

Melhor Animação e Filme Internacional tiveram duas unanimidades, enquanto Documentário somente uma. 

Em 2011, “Toy Story” fechou com chave de ouro um ciclo em grande estilo: a história perfeita emocionou todas as gerações como raras vezes uma trilogia conseguia fazer. Não à toa chegou a Melhor Roteiro Adaptado e Filme e, se tivesse vencido ambos, passaria longe do exagero. 

Oito anos depois, “Os Incríveis 2” perdeu o favoritismo para o irresistível “Homem-Aranha no Aranhaverso” A animação trazia o clima dos quadrinhos ao misturar diversos tipos de técnica de forma uniforme e uma montagem dinâmica. Filmaço! 

Em 2012, o Asghar Farhadi não teve concorrentes para ganhar com o iraniano “A Separação”.

No ano seguinte, “Amor” veio de Cannes para o Oscar e ignorou quem estava pela frente, incluindo, o excelente chileno “No”.

Apesar de considerar certas partes violentas desnecessárias, o drama do Michael Haneke é um triste retrato sobre a velhice e o que é amar. 

Por fim, “O.J – Made In America”, épico sobre a violência nos EUA, o encarceramento em massa de negros e o sensacionalismo da mídia a partir da história do ex-jogador da NFL e do ator O.J Simpson, é uma obra tão completa que se tornou um clássico instantâneo e impossível de não ser premiado. 

E a vitória fica ainda mais pesada quando você olha os concorrentes, entre eles, “A 13a Emenda”, “Fogo no Mar” e “Eu Não sou Seu Negro”. Nas categorias técnicas, quem mais se destacou foram os prêmios de canção original. 

CATEGORIAS TÉCNICAS

Em 2010, as vitórias de “Avatar” em efeitos visuais e “Guerra ao Terror” na categoria de som foram indiscutíveis. Dois anos depois, veio o Oscar também de Efeitos Visuais de “A Invenção de Hugo Cabret” com o seu 3D que deveria ter virado lição de como usar a técnica. Já em 2013, os efeitos visuais lindíssimos de “As Aventuras de Pi” merecem a estatueta assim como o hit “Skyfall” defendido por Adele. 

Indo para o ano do 7×1, “Let it Go” era arrebatadora demais para não ganhar o Oscar de Canção Original. Já as vitórias de “Gravidade” em Montagem, Efeitos Visuais e Som. Em 2015, a montagem arrasadora de “Whiplash” foi consagrada assim como a detalhista direção de arte de “O Grande Hotel Budapeste”. No ano seguinte, a categoria deu o prêmio para “Mad Max”. A edição ainda rendeu o primeiro Oscar da carreira do Ennio Morricone pela trilha de “Os Oito Odiados”. Um momento inesquecível. 

La La Land

A confusa edição de 2017 teve os prêmios para “La La Land em trilha sonora e canção original com “City of Stars”. Nada mais natural para um musical. “Dunkirk” nas duas categorias de som, “O Destino de uma Nação” em Maquiagem e Penteado, e “Blade Runner 2049” venceram com justiça e sobras o Oscar.  

Para fechar, o último evento do período rendeu a grande conquista da Ruth E. Carter em Melhor Figurino por “Pantera Negra”. Para além da qualidade indiscutível do trabalho, ainda uma premiação simbólica pela estilista ser a primeira mulher negra a vencer o prêmio. E ainda tem o Oscar do Alfonso Cuáron em Direção de Fotografia pelo belíssimo “Roma”. 

ROTEIRO E ATUAÇÕES

Já em roteiro, destaco “A Rede Social”, vencedor de adaptado em 2011. O Aaron Sorkin faz um brilhante estudo de caso de uma geração a partir do personagem do Jesse Eisenberg. Também com a tecnologia em foco, “Ela” conquistou merecidamente roteiro original em 2014. Pela tradução do escândalo financeiro bancário dos EUA recheado de ironia, “A Grande Aposta” venceu com mérito roteiro adaptado. 

As dobradinhas de 2017 e 2018, respectivamente, com “Manchester à Beira-Mar“/ “Moonlight” e “Corra”/“Me Chame Pelo Seu Nome” trouxe recordes, inclusão e diversidade. Por fim, “Infiltrado na Klan” tinha o simbolismo da primeira vitória do Spike Lee na Academia e um posicionamento contundente contra o racismo nos EUA e Donald Trump. 

Hora de falar das atuações: nos anos 2010, os coadjuvantes tiveram vencedores mais contundentes do que os principais. 

Em atriz coadjuvante, a dilacerante interpretação de Monique em “Preciosa” com ora uma crueldade absurda, ora uma tristeza profunda não deu qualquer chance para as concorrentes. “Histórias Cruzadas” pode ter todos os problemas do mundo, mas, certamente Octavia Spencer não é um deles. Esta vitória é inquestionável também pela competição daquele ano não ter sido das mais empolgantes. 

Os Oscars de Lupita Nyong´o e Patricia Arquette jogam em sintonias diferentes: a estrela de “12 Anos de Escravidão” coloca em uma cena todo o desespero e o horror da insanidade da escravidão, enquanto o destaque de “Boyhood” mostra o cotidiano das nossas vidas e de ser uma mãe solteira com as dores e delícias. Por fim, a Regina King em “Se a Rua Beale Falasse” aparece pouco, mas, guarda a cena do incerto longa do Barry Jenkins. O tempo para vê-la atuar na sequência da peruca. Estatueta merecida demais. 

Leonardo DiCaprio em cena de The Revenant, de Alejandro González Iñarritu

Entre os homens, Christoph Waltz e J.K Simmons vivem dois dos personagens mais celebrados do cinema americano dos últimos anos. Com singeleza e cordialidade, o Mahershala Ali ganhou duas estatuetas praticamente em sequência por “Moonlight” e “Green Book”. E foi algo tão natural estas conquistas que impressionou ninguém chiar ou ter qualquer questionamento sobre dois Oscars tão cedo para um ator com menos de 50 anos. 

Nas atuações principais, destaco apenas três vitórias: a Natalie Portman assombrosa em “Cisne Negro”, Cate Blanchett com “Blue Jasmine”, melhor atuação dela até “TÁR”, e, claro, Leonardo DiCaprio saindo do jejum em “O Regresso”.  

DIREÇÃO E FILME

Em direção, vou ser ainda mais rígido: somente o Alfonso Cuáron em “Roma” pode ser considerado indiscutível. Até poderia colocar o mexicano em dose dupla por “Gravidade”, mas, ali tínhamos Martin Scorsese formidável com “O Lobo de Wall Street”. 

Infelizmente, não coloquei nenhum ganhador de Melhor Filme nesta lista. Para mim, é bem sintomático de um período de produções corretas, mas, nada brilhantes vencedoras da categoria máxima do Oscar. Uma Academia que buscou tanto o consenso que perdeu o brilho.