Caio Pimenta aponta quais os indicados a Melhor Filme não vencedores foram mais injustiçados entre 2014 a 2023.

DE “WALL STREET” A “LA LA LAND”

Em 2014, a Academia se dividiu entre “12 Anos de Escravidão” e “Gravidade”. A ficção científica do Alfonso Cuáron levou a maior parte dos prêmios, porém, perdeu a categoria principal para o drama do Steve McQueen. No meio deste duelo, porém, havia uma pérola que acabou em segundo plano.  

Indicado em apenas cinco categorias, “O Lobo de Wall Street” saiu de mãos vazias do Oscar. Um desempenho injustificado pela qualidade da produção: não seria nada absurdo ver o longa sair vencedor de Melhor Filme, Direção com Scorsese e, principalmente, Ator com Leonardo DiCaprio em vez de Matthew McConaughey. Também não dá para acreditar ter ficado de fora dos indicados a Montagem. 

Diferente de “O Lobo de Wall Street”, os próximos três injustiçados até foram premiados no Oscar, porém, aquela estatueta máxima faltou. 

“Boyhood” até começou a temporada do Oscar 2015 forte, mas, parou em “Birdman”. Pior do que perder Melhor Filme foi a derrota do Richard Linklater para o Alejandro González Iñarritu em Melhor Direção. O desafio épico de filmar ao longo de uma década uma história sobre a vida cotidiana foi preterida pela virtuosidade técnica do mexicano. 

Mad Max – Estrada da Fúria” saiu do Oscar com seis estatuetas em 2016 graças ao amplo domínio nas categorias técnicas. Faltou coragem da Academia para entregar Melhor Direção para o George Miller e Melhor Filme. As escolhas do Iñarritu e de “Spotlight”, respectivamente, foram dentro da zona de conforto do Oscar. 

La La Land

“La La Land” pagou o preço da fama: chegou tão favorito que virou alvo a ser abatido. A derrota para “Moonlight” em Melhor Filme após conquistar seis categorias não apenas se mostrou um contrassenso com os resultados até então da noite como ainda teve contornos de crueldade com a troca de envelopes no fim da cerimônia de 2017. 

 DE “CORRA” A “O IRLANDÊS”

O Oscar de Melhor Roteiro Original para o Jordan Peele mostrou o tamanho que “Corra” teve na corrida de 2018. Com a miopia para filmes de gênero em modo turbo, a Academia, infelizmente, sequer cogitou a possibilidade do terror chegar ao prêmio máximo ou até Direção. Optou-se pelo Guillermo del Toro e “A Forma da Água”, dois relativos outsiders mais palatáveis para a Academia. 

O próximo injustiçado é uma verdadeira ironia do destino. 

Em 1990, o clássico “Faça a Coisa Certa” sequer bateu no Oscar de Melhor Filme, sendo preterido por “Conduzindo Miss Daisy”. Quase 30 anos depois, Spike Lee chega à categoria máxima com “Infiltrado na Klan”, suspense policial repleto de ironia, incisivo e altamente contra o então presidente dos EUA, Donald Trump. A Academia, porém, preferiu uma versão mais polida da luta racial e ficou com “Green Book”, dramédia de paralelos óbvios com “Miss Daisy”.  

Em 2020, o Martin Scorsese novamente foi injustiçado: mesmo com 10 indicações, “O Irlandês” saiu de mãos vazias do Oscar. Ainda que seja compreensível a derrota para “Parasita” e Bong Joon-Ho em Melhor Filme e Direção, era possível, pelo menos, uma vitória em categorias técnicas. Ficou feio para a Academia tamanha esnobada. 

 DE “DRUK” A “OS FABELMANS”

Escolher um injustiçado do Oscar pandêmico de 2021 pela falta de grandes filmes na temporada. Fico com “Druk” que poderia ter beliscado uma vaga em Melhor Filme até por conta da nomeação do Thomas Vintenberg a Melhor Direção. 

“Ataque dos Cães” merecia mais crédito por parte da Academia em 2022: chegou como favorito e venceu apenas Melhor Direção com a Jane Campion. Injustiça grande quando pensamos que poderia ter ganhado sem maiores dificuldades Melhor Filme, Ator com o Benedict Cumberbatch e Roteiro Adaptado. 

Fecho a lista de injustiçados recentes com “Os Fabelmans”: o melhor Spielberg dos últimos anos ficar sem nenhum Oscar é quase um acinte. Ainda que o predomínio de “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo” na temporada fosse impossível de ser segurado, a Academia deveria ter encontrado espaço para dar alguma estatueta nem que fosse para o John Williams em Trilha Sonora.  

Ser indicado a 7 categorias e não ganhar nada é o que não podia acontecer.