Blockbusters Nacionais

As grandes apostas do cinema nacional decepcionaram e MUITO nas bilheterias em 2018. Continuação do sucesso de 2014, “O Candidato Honesto 2” não conseguiu nem mesmo aproveitar toda a polêmica eleição e fez apenas 568 mil espectadores perante os mais de 2,3 milhões do longa original. Principal filme de ação brasileiro do ano, “O Doutrinador” teve menos de 300 mil pagantes, enquanto a comédia de Danilo Gentilli, “Os Exterminadores do Além Contra a Loira do Banheiro”, levou pouco mais de 200 mil.

A coisa piora ainda mais com as cinebiografias: nem Planet Hemp (“Legalize Já”) e Tancredo Neves (“O Paciente”) tiveram mais de 50 mil de público. Por que não apostar no sertanejo e em um monstro sagrado da televisão? “Coração de Cowboy” e “Chacrinha” afundaram com público pouco acima de 30 mil. Já Luana Piovani amargou fracasso com menos de 15 mil pagantes para “O Homem Perfeito”.

Fatores como os preços caros e o desgaste de certas fórmulas do cinema nacional (comédia-cinebiografia-ação à la Hollywood) explicam em parte tal desinteresse do público pelos filmes do próprio país. Acima de tudo, porém, considero que há uma mudança clara no ato de ir ao cinema: com tamanhas possibilidades de consumir filmes em casa (Netflix, Now, Globo Play, downloads, TV Paga) e estas produções sendo lançadas quase instantaneamente nelas, a maior parte dos consumidores somente sairá do conforto do lar e gastará com o caro ingresso do cinema, pipoca, refrigerante, estacionamento para filmes que tragam experiências visuais e sonoras que, segundo ele, valham a pena de se conferir na telona.

Os demais dá para ver em casa. Infelizmente.

James Franco

Pode-se dizer que James Franco é um dos artistas mais versáteis dentro do cinema americano, pelo menos, quanto à escolha dos projetos em que participa. Afinal de contas, ele vai do blockbuster (“Besouro Verde”, trilogia “Homem-Aranha”, “Oz: Mágico e Poderoso”, “Planeta dos Macacos: A Origem”) aos dramas de diretores renomados (“Milk”, de Gus Van Sant, “127 Horas”, de Danny Boyle, “Rainha do Deserto”, de Werner Herzog).

O californiano se encontrou mesmo na comédia ao se juntar à turma de Seth Rogen, Evan Goldberg, Danny McBride. “Segurando as Pontas”, “A Festa da Salsicha” e “A Entrevista” são os filmes mais conhecidos no gênero.

“O Artista do Desastre” seria e foi a obra capaz de elevar o patamar para além do besteirol e da zoeira. O cuidado de recriar de modo fidedigno cada take do terrível longa de Tommy Wiseau e a atuação capturando não apenas os trejeitos, mas, a pessoa por trás da esquisitice do retratado, mostravam como James Franco sabia do potencial da obra.

Não à toa veio o reconhecimento da crítica especializada ao colocar a atuação de James Franco como uma das melhores de 2017. O Globo de Ouro tratou de consagrar também o trabalho com o prêmio de Melhor Ator em Comédia/Musical. A vaga para o Oscar era dele.

Daí, vieram as acusações de mau tratamento para com as mulheres nos sets de filmagem. O fato já seria grave por si só, mas, o momento amplificou ainda mais a situação pela forma como as mulheres se juntaram de forma até então inédita dentro de Hollywood para combater este tipo de comportamento inaceitável. Acabava ali qualquer chance de Oscar.

O prêmio da Academia, talvez, tenha sido o menor dos problemas para o ator. A participação dele em “The Deuce” chegou a ser questionada, mas, a HBO acabou segurando Franco. A presença em “A Balada de Buster Scruggs” é o primeiro passo para tentar retomar a carreira. A sensação, porém, é que ele terá de remar tudo de novo para voltar ao mesmo patamar de antes. Isso se conseguir.

Lars Von Trier

Mestre em saber como provocar o público, Lars Von Trier repetiu o expediente em “A Casa que Jack Construiu“. Com violência para dar e vender, o cineasta dinamarquês mostrou a história de um Jack, o Estripador, contemporâneo, capaz de meter bala na cabeça de dois garotos e matar as vítimas mulheres das maneiras mais cruéis possíveis. Palco-mor do diretor, o Festival de Cannes recebeu a produção com um misto de ojeriza e reprovação – muita gente, escandalizada, deixou a sala de exibição. Nos EUA, o longa estrelado por Matt Dillon também enfrentou restrições e censuras.

“A Casa que Jack Construiu” está muito longe de ser um desastre de filme. Anos-luz de “Dogville”, mas, também distante de “Manderlay”, a obra é interessante quando ambienta cada assassinato e discute o quanto um artista expõe seu lado mais sombrio em uma obra de arte ou mostra-se cínica sobre como ninguém está se importando com o próximo. Além disso, Von Trier é gigante na elaboração de sequências tensas e um monstro visual como comprova a descida ao inferno.

O que coloca o diretor nesta lista é a notar como ele está cada vez mais perdido dentro da própria persona que criou. A autoanálise feita em determinado momento de “A Casa que Jack Construiu” surge mais como uma tentativa gratuita de provocar o público e fazer Lars Von Trier sair como um escroto em um processo calculado de autodestruição, iniciado na infeliz coletiva de imprensa de “Melancolia” em Cannes, do que necessariamente serve ao filme.

Soa tolo, gratuito, imaturo para um grande artista como é Lars Von Trier. Ou foi.

Marina Ruy Barbosa

Os pragmáticos dos números devem olhar com estranheza (para não dizer, deboche) Marina Ruy Barbosa em qualquer lista de quem sai por baixo em 2018. Afinal, a atriz é uma das mais populares nas redes sociais (28,8 milhões de seguidores no Instagram), protagonizou a última novela das sete e a atual das oito (“Deus Salve o Rei” e “O Sétimo Guardião”, respectivamente) e é garota-propaganda de uma das maiores marcas de carro no Brasil.

Após anos vivendo personagens importantes na televisão, era de se esperar uma estreia melhor para Marina Ruy Barbosa nos cinemas. O que se viu foi um fiasco tanto de público quanto de qualidade artística nos dois filmes protagonizados pela atriz.

Nem “Todas as Canções de Amor” nem “Sequestro Relâmpago” são desastres absolutos como “O Candidato Honesto 2” e “Crô em Família” só para ficar em filmes lançados neste ano. Mesmo assim, não fazem Marina sair da zona de conforto já vista por diversas vezes em novelas e minisséries. No primeiro, está ali a menina apaixonada, sonhadora, enquanto no segundo, uma jovem indefesa contra assaltantes malvados.

Para piorar, nos dois filmes, há uma constante sensação de marketing proposital: um pouco mais disfarçado em “Todas as Canções de Amor” ao colocá-la junto com Bruno Gagliasso (algo repetido em “O Sétimo Guardião) ou escancarado ao dirigir um carro da Renault durante 70% de “Sequestro Relâmpago”.

É uma pena atrizes como Marina Ruy Barbosa (e pode incluir Bruna Marquezine, Juliana Paiva, Isabelle Drummond, Giovanna Antonelli…) terem tamanha dificuldade de se arriscarem para valer seja no cinema, teatro ou na própria TV. Acredito que ganhariam demais como intérpretes igual fez Deborah Secco, por exemplo, ao participar de produções como “Bruna Surfistinha” e “Boa Sorte”, trabalhos totalmente fora da zona de conforto da mocinha ou vilã de novela.

Ou talvez os pragmáticos do números estejam certos e elas simplesmente não precisam (não querem? não deixam?).

“O Grande Circo Místico”

Cacá Diegues merece todo o respeito do mundo pela história no cinema brasileiro, tanto como diretor de obras como “Bye, Bye Brasil” quanto pela atuação forte e importante em defesa da nossa produção. Não à toa chegou a Academia Brasileira de Letras após a morte do gigante Nelson Pereira dos Santos, neste ano. Tudo isso não justifica, porém, ser benevolente com “O Grande Circo Místico“.

Foram 10 anos tentando levar o projeto às telas. Um elenco espetacular em mãos com nomes como Jesuíta Barbosa, Bruna Linzmeyer, Mariana Ximenes, Juliano Cazarré e o francês Vincent Cassel. A fotografia de Walter Carvalho.

Por que “O Grande Circo Místico”, então, deu tão errado?

A produção tem uma cara envelhecida, datada, não traz nada novo para o cinema nacional nem para a própria filmografia de Cacá Diegues. Não empolgou Cannes muito menos Gramado e ainda enfrentou questionamentos sobre as escolhas duvidosas narrativas e polêmicas sobre machismo no filme.

A indicação para ser o filme do Brasil no Oscar 2019 já foi debatida neste videocast que você confere abaixo. O resultado, infelizmente, nós já sabemos.

Oscar

O Oscar parecia ter atingido o fundo do poço com a constrangedora troca de envelopes na categoria de Melhor Filme em 2017. Porém, a Academia de Ciências Cinematográficas de Hollywood reiterou aquele velho chavão: ‘não há nada que não possa piorar’.

Se os fantasmas do #MeToo e do #OscarSoWhite foram fortes suficientes para despertar a entidade sobre a necessidade de indicações de mais mulheres (Greta Gerwig em Melhor Direção e Rachel Morrison em Fotografia) e negros (Daniel Kaluuya, Denzel Washington, Octavia Spencer e Mary J. Blige foram nomeados nas atuações, enquanto Jordan Peele concorreu como diretor e venceu em Roteiro), a audiência causou espanto.

Pode até parecer alto, mas, os 26,5 milhões de espectadores nos EUA foi o índice mais baixo a ver a cerimônia na história. O choque causado pelos números levou à Academia a repensar a festa e tentar trazer o público de volta. Então, veio a péssima ideia: a categoria de Filmes Populares.

O evento voltado para celebrar o melhor do cinema americano cedia, finalmente, aos blockbusters – um contrassenso total para quem premiara dois anos antes “Birdman” com toda a crítica ao vazio destes filmes produzidos em Hollywood. Tudo em nome da audiência. A rejeição imediata levou a entidade a adiar a proposta para 2020, o que, na verdade, significa que nunca virá à luz.

Idealizador do mico, o presidente da Academia, John Bailey não poderia ter tido um ano pior: apesar de ter sido reeleito, o diretor de fotografia enfrentou acusações de assédio sexual. Foi inocentado por um comitê de membros e da administração da própria entidade.

Para selar o mau momento, a escolha de Kevin Hart para ser o apresentador da cerimônia do ano que vem revelou-se uma bomba após tweets homofóbicos do comediante vazarem e ele pedir para sair. Faltando menos de 80 dias, o Oscar 2019 está sem host.

O fundo do poço parece nunca ter fim.

Série ‘Millenium’

A franquia “Millenium” saiu dos livros para chegar aos cinemas na versão sueca estrelada por Noomi Rapace. Depois, David Fincher levou a história para os EUA em uma produção elegante com um desempenho excelente da então novata Rooney Mara. A arrecadação de US$ 232 milhões ao redor do planeta indicava uma continuação quase instantânea apesar da Sony ter considerado o orçamento (US$ 90 milhões) caro demais para um filme de classificação indicativa elevada.

Mas, não foi bem assim. Fincher não se mostrava interessado em voltar, Rooney Mara começou a crescer e participar de projetos ousados suficientes para sequer cogitar uma continuação e Daniel Craig tinha James Bond como a franquia principal, além de querer um aumento salarial considerado incompatível pelo estúdio.

A saída do trio, porém, não desanimou a Sony a seguir com o barco mesmo com todos os sinais de naufrágio acesos. O estúdio até começou bem com a contratação de Steven Knight (do ótimo “Locke”), mas, a escolha do uruguaio Fede Alvarez voltou a acender o alerta. Afinal de contas, sair de Fincher para um diretor que havia feito apenas a fraca nova versão de “A Morte do Demônio” e o bom “O Homem nas Trevas” não soava animador. Pelo menos, Claire Foy, a grande intérprete da Rainha Elizabeth em “The Crown“, era uma notícia animadora.

Mesmo assim, não deu e “A Garota na Teia de Aranha” colocou “Millenium” no mesmo patamar dos suspenses do “Supercine”: sem graça, previsível e vazio. O faturamento nas bilheterias não poderia ter sido pior: US$ 33 milhões ao redor do planeta para um orçamento de US$ 43 milhões.

Prejuízo para uma Sony longe dos momentos de glória. A franquia deve ficar na geladeira por um longo tempo até voltar a ganhar sobrevida.

Star Wars

Em 2018, a Disney possui as três maiores bilheterias do cinema americano: “Pantera Negra”, “Vingadores: Guerra Infinita” e “Os Incríveis 2”. A perspectiva para 2019 são as melhores possíveis com “Vingadores: Ultimato”, “Frozen 2”, “O Rei Leão”, “Alladin”, “Capitã Marvel”, “Homem-Aranha”, além, claro, do aguardado serviço de streaming.

A empresa do Mickey soa como o Midas em forma de estúdio de cinema. Mas, será mesmo assim? Será tudo tão perfeito? Será infalível? O ano de “Star Wars” mostra que não é bem assim.

A ideia de fazer um filme todos os anos ambientado no universo da saga criada por George Lucas parecia tentador. Afinal de contas, as três maiores bilheterias dos últimos anos nos EUA foram de “Star Wars” – “O Despertar da Força” em 2015, “Rogue One” em 2016 e “Os Últimos Jedi” em 2017. Grandes personagens, universos a serem explorados, batalhas intergalácticas não faltam em um mundo repleto de possibilidades. E por que não contar a história de Han Solo com um novo ator no lugar de Harrison Ford?

– Não tem como dar errado – assim pensaram os executivos da Disney.

Como um castigo, os problemas já começaram na produção com o caos da dupla Christopher Miller e Phil Lord, de “Uma Aventura Lego”. Sem a experiência necessária para segurar um set de filmagem gigantesco, os dois foram demitidos pela CEO da LucasFilm, Kathleen Kennedy. No lugar, veio o burocrático Ron Howard, oscarizado por “Uma Mente Brilhante”.

Para piorar, Alden Ehrenreich não conseguia convencer nem mesmo a equipe do filme: a LucasFilm chegou a contratar um coach para orientá-lo no meio das filmagens, quando tal expediente costuma ocorrer apenas no começo do trabalho.

O resultado nas bilheterias pode até não ter sido desastroso como um todo – US$ 392 milhões ao redor do planeta. Ainda assim, “Han Solo” foi a menor arrecadação na história de um filme “Star Wars”, não conseguiu causar nenhuma repercussão mais forte perante o público (nem mesmo os fãs ficaram comovidos com o longa, diga-se) e recebeu péssimas avaliações da crítica, correndo risco, inclusive, de aparecer no Framboesa de Ouro.

Apesar de “Star Wars IX” vir com boas chances de recuperar o estrago à imagem da saga, a Disney percebeu que o público não está disposto a engolir qualquer coisa só por ser uma história vinda de ‘uma galáxia tão, tão distante’ e não fará mais filmes anuais sobre a série.

Tomb Raider

Fala sério: nem você lembrava que esse filme existia! Ok, eu também não: entrou aos 48 minutos do segundo tempo aqui.

A primeira versão da heroína dos games, Lara Croft, chegou aos cinemas em 2001 com Angelina Jolie de protagonista. Não empolgou, mas, rendeu US$ 274 milhões para a Paramount Pictures. Lançada dois anos depois, a sequência fez modestos US$ 165 milhões, levando o estúdio a desistir da franquia naquele momento.

Mas, Hollywood é persistente e resolveu resgatar a personagem para uma nova aventura 15 anos depois. “Tomb Raider” trazia a ganhadora do Oscar, Alicia Vikander, com o objetivo de humanizar a personagem e fazer uma história melhor. Neste aspecto, o objetivo foi alcançado: o filme é um pouquinho melhor que os de Jolie, mas, nada memorável também.

Resultado: bilheteria nos EUA de US$ 57 milhões e ao redor do planeta de US$ 216 milhões. Podem até parecer números bons, mas, não suficientes para que a Paramount cogite de imediato uma sequência. Amém.

Woody Allen

Desde “Meia-Noite em Paris”, Woody Allen não lança algo digno de uma das mais importantes filmografias do cinema americano. Mesmo assim, todos os anos desde 1982, tínhamos um lançamento do cineasta novaiorquino.

2018 rompeu esta tradição.

E não foi foi por falta de filme: “A Rainy Day in New York” está finalizado e pronto. O problema é que simplesmente não há clima para o lançamento do filme. O motivo são as acusações feitas pela filha adotiva do diretor, Dylan Farrow, de que ele teria abusado sexualmente dela quando tinha sete anos de idade.

Feita ainda nos anos 1990, a denúncia ganhou força novamente após os escândalos sexuais estourarem em Hollywood, especialmente, envolvendo Harvey Weinstein e Kevin Spacey. A repercussão negativa levou integrantes do elenco de “A Rainy Day in New York”, Timothee Chalamet e Rebecca Hall, afirmaram que se arrependiam do trabalho e nunca mais voltariam a fazer filmes com Woody Allen. Colin Firth, Michael Caine e Greta Gerwig também foram outros astros que se posicionaram contra o cineasta.

Com pouca chance de arranjar novos financiadores para futuros projetos, sem estrelas dispostas a correr o risco de associar-se a ele e dono de filmes com pouco apelo comercial para que o risco valha a pena, Woody Allen parece que terá um fim de carreira melancólico.

“Roda Gigante” deve ter sido o último longa do novaiorquino a ser lançado nos cinemas. Já “A Rainy Day in New York” só virá a público quando Allen morrer como uma forma de chamar a atenção do público. Negócios.

CONFIRA TAMBÉM A LISTA DOS 30 FILMES IMPERDÍVEIS DE 2019: