Caio Pimenta analisa as indicações ao Gotham Awards, primeiro evento da temporada de premiações nos EUA.

Neste ano, o Gotham Awards está diferente: pela primeira vez, o evento removeu o limite orçamentário de US$ 35 milhões para filmes elegíveis. Desta forma, todas as produções possíveis, das mais baratas até as mais caras, poderiam correr, 

Ainda assim, superproduções como “Oppenheimer”, “Assassinos da Lua das Flores”, “A Cor Púrpura” e “Napoleão”, por exemplo, não foram submetidos para a corrida. As indicações como vocês vão ver, entretanto, seguiram os padrões dos últimos anos mesclando entre produções fortes da temporada e outras mais desconhecidas. 

MELHOR ROTEIRO

INDICADOS

A princípio, o favoritismo pertence ao Jonathan Glazer por “Zona de Interesse”. A indicação ao Gotham mostra a força da produção da A24 rumo à categoria dos adaptados no Oscar, onde terá de duelar contra “Oppenheimer” e “Assassinos da Lua das Flores”. Se vencer aqui, pode até sonhar em aprontar uma surpresa para cima do Scorsese e do Nolan. 

Quanto aos demais, “All of us Strangers” demonstra prestígio e buscará ser o candidato inesperado em adaptado. O problema é a elevada concorrência da categoria. “Segredos de um Escândalo” e “Anatomia de uma Queda” ganham força na embolada disputa de Roteiro Original em que as cinco vagas estão abertas. 

Desde a criação do prêmio de Melhor Roteiro no Gotham em 2015, seis vencedores foram indicados ao Oscar, entre eles, os vencedores “Spotlight”, “Moonlight” e “Corra”. 

MELHOR FILME INTERNACIONAL

INDICADOS

  • Pobres Criaturas
  • “All of Us Strangers”
  • Anatomia de uma Queda
  • “Totém”
  • “A Zona de Interesse” 

Sem dúvida, uma categoria forte que poderia, exceção a “Totém”, estar tranquilamente em Melhor Filme. Vejo uma possibilidade de embate forte entre “Zona de Interesse”, o candidato natural rumo ao Oscar, e “Pobres Criaturas”, aclamado com o Leão de Ouro em Veneza. Por outro lado, “Anatomia de uma Queda” e “All of Us Strangers” tem cara de que podem sim surpreender. 

Em 2020, somente “Wolfwalkers” chegou ao Oscar, porém, foi em Animação. Já em 2021, “Drive My Car” ganhou no Gotham e na Academia, além de ter sido acompanhado nos dois eventos por “A Pior Pessoa do Mundo”. No ano passado, “Os Banshees de Inisherin” perdeu a categoria para o francês “O Acontecimento”. 

MELHOR DIREÇÃO REVELAÇÃO

INDICADOS

  • Raven Jackson, por “All Dirt Roads Taste of Salt”
  • Georgia Oakley, de “Blue Jean”
  • Michelle Garza Cervera, por “Huesera”
  • Celine Song, de “Vidas Passadas”
  • A. V. Rockwell, por “A Thousand and One”

Quem serão os novos Bennett Miller, Benh Zeitlin e Jordan Peele, ganhadores de Melhor Direção Revelação no Gotham e que foram indicados ao Oscar de Direção? 

Aqui, somente a Celine Song pode sonhar em repetir o feito na categoria. Há evidente um carinho da indústria por “Vidas Passadas”, porém, sinto que Melhor Direção no Oscar parece inacessível demais até mesmo olhando para a representatividade feminina, afinal, Justine Triet e Greta Gerwig chegam com mais chances. Para mim, continuo apostando mais na Song em Roteiro Original mesmo. 

MELHOR FILME

INDICADOS

  • “Vidas Passadas”
  • “Reality”
  • “Showing Up”
  • “A Thousand and One”
  • “Passagens”

A provável vitória de “Vidas Passadas” no Gotham deve fortalecer o caminho do filme rumo à indicação na mesma categoria no Oscar 2024. Hoje, o romance da Celine Song enfrenta concorrência pesada dentro da A24, afinal, o estúdio conta com o forte “Zona de Interesse” e “The Iron Claw”, candidato em momento de alta na temporada.  

Como a festa de premiação acontece no dia 27 de novembro, sair na frente pode ser uma boa para uma produção tão discreta como “Vidas Passadas”. 

Ao longo dos 19 anos até agora do Gotham, 12 vencedores de Melhor Filme emplacaram indicações na mesma categoria da festa da Academia. “Sideways”, “Capote”, “Inverno da Alma”, Me Chame Pelo Seu Nome e “História de um Casamento” foram alguns deles. Já a dobradinha de vitória aconteceu em seis ocasiões com “Guerra ao Terror”, “Birdman”, “Spotlight”, “Moonlight” e recentemente com “Nomadland” e “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo”. 

MELHOR ATUAÇÃO COADJUVANTE

INDICADOS

  • Rachel McAdams, por “Are You There God? It’s Me Margaret”
  • Charles Melton, de “Segredos de um Escândalo”
  • Sandra Huller, por “Zona de Interesse”
  • Gleen Howerton, por “Blackberry”
  • Ryan Gosling, de “Barbie”
  • Claire Foy, por “All of Us Strangers”
  • Jamie Foxx, de “Clonaram Tyrone”
  • Penélope Cruz, por “Ferrari”
  • Juliette Binoche, de “O Sabor da Vida”
  • Da´Vine Joy Randolph, por “Os Rejeitados”

As categorias de atuação no Gotham mudaram nos últimos anos sem ter mais a divisão de homens e mulheres. Desta forma, os prêmios de intérprete principal e coadjuvante contam cada um com 10 indicados.

De todos os indicados, a grande surpresa foi o Ryan Gosling surgir aqui por conta do perfil histórico do Gotham. Aliás, esta foi a única concessão da premiação às grandes produções em todo o evento. Se o astro de “Barbie” está conseguindo furar a bolha até aqui, imagina o que ele é capaz no Oscar? Também vale destacar o Charles Melton subindo na bolsa de apostas com “Segredos de um Escândalo”. 

Mas, como deu para perceber, a predominância é feminina entre os indicados: são seis mulheres para quatro homens. Os maiores destaques ficam por conta das presenças da Sandra Huller, permitindo à alemã sonhar com uma dupla indicação em Coadjuvante e Atriz principal no Oscar, a Claire Foy em “All of us Strangers”, o que a coloca definitivamente no páreo, e a Juliette Binoche doidinha para beliscar a última vaga na Academia. 

Para o Gotham, vejo uma corrida bem equilibrada entre a Da´Vine Joy Randolph, Sandra Huller e Ryan Gosling. 

Caso a vitória do Ken de “Barbie” vier, o histórico da categoria no Gotham em relação ao Oscar é animador: nos dois anos de criação, o prêmio coincidiu com o vencedor da categoria masculina com as conquistas em dobradinha do Troy Kotsur, de “Coda – No Ritmo do Coração”, e do Ke Huy Quan, por “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo”. 

MELHOR ATUAÇÃO PRINCIPAL

INDICADOS

  • Aunjanue Ellis-Taylor, por “Origem”
  • Lily Gladstone, por “The Unknown County”
  • Michelle Williams, por “Showing Up”
  • Teyana Taylor, de “A Thousand and One”
  • Caille Spaeny, de “Priscilla”
  • Andrew Scott, por “All of us Strangers”
  • Jeffrey Wright, de “American Fiction”
  • Franz Rogowski, por “Passagens”
  • Babetida Sadjo, por “Our Father, The Devil”

Interessante notar como não há uma grande estrela de Hollywood, talvez, no máximo, a Michelle Williams. A maioria, entretanto, são ou atores relegados quase sempre a coadjuvantes ou que ainda tentam se firmar na carreira. 

Isso ajuda a dar uma embolada na corrida para o Gotham: vejo com maiores possibilidades o Jeffrey Wright do badalado “American Fiction”, a Caille Spaeney credenciada após ganhar o prêmio de Melhor Atriz em Veneza e o Andrew Scott do querido “All of Us Strangers”. Acredito que ele, aliás, esteja ligeiramente na frente para a vitória. 

Para mim, entretanto, o maior destaque fica pela nomeação surpresa da Lily Gladstone. Esta indicação serve para mostrar como o ano é dela e há o desejo em reconhecê-la. Isso não vai acontecer aqui no Gotham, pois, “The Unknown County” é um longa bem pequena, mas, a lembrança serve para deixar a Emma Stone com uma senhora pulga atrás da orelha. 

No primeiro ano de unificação da categoria, somente a Olivia Colman, por “A Filha Perdida”, entre todas as indicadas chegou ao Oscar. Já no ano passado foi diferente com as presenças do Brendan Fraser, Paul Mescal, Cate Blanchett e Michelle Yeoh. Curiosamente, o Gotham foi para a Danielle Deadwyller, a qual foi esnobada na Academia.