De Rachel McAdams a Emily Blunt, Caio Pimenta analisa a corrida rumo ao Oscar 2024 de Melhor Atriz Coadjuvante.

AZARÃES

A turma das candidatas azarães se abre com a Cara Jade Myers. Aqui, é apenas um palpite improvável caso “Assassinos da Lua das Flores” empolgue a Academia a ponto de ter nomeados em todas as categorias, afinal, Lily Gladstone em Melhor Atriz, Leonardo DiCaprio em Ator e o Robert De Niro em Ator Coadjuvante estão praticamente certos. Porém, acho improvável demais uma indicação aqui. 

Injustamente esnobada em “O Primeiro Homem”, a Claire Foy deve seguir esquecida pelo Oscar. Em “All of Us Strangers”, ela interpreta a mãe do personagem do Andrew Scott. Se o longa pegar impulso, pode ser que ela suba junto, porém, a produção do Andrew Haigh é muito concentrada na dupla de protagonistas, o que pode eclipsá-la durante a corrida rumo ao Oscar. 

A Patricia Clarkson foi elogiada por “Monica” durante a passagem do drama em Veneza. O problema, porém, será superar candidatas vindas de filmes muito mais bem posicionados na temporada. Tende a repetir o que houve com o elenco de “O Peso da Dor” em 2022. 

Apesar de ter encaixado muito no estilo do Wes Anderson, a Scarlett Johansson praticamente está sem chances por “Asteroid City”. Isso até por conta do histórico dos filmes do cineasta: apesar de ser sempre reunir grandes estrelas, nenhum ator ou atriz foi indicado até hoje por um trabalho nos filmes dele.  

CORRENDO POR FORA

Hora de falar da turma correndo por fora. Se “American Fiction” se consolidar com um candidato sério nas principais categorias do Oscar 2024, há muitas opções para atriz coadjuvante, incluindo, a Issa Rae, Erika Alexander e Tracee Ellis Ross. Neste momento, entretanto, as três ainda correm por fora. 

Cada dia mais requisitada no cinema americano, a Florence Pugh terá a difícil missão de beliscar uma segunda vaga na categoria para “Oppenheimer”. A favor dela deve pesar o prestígio do favoritismo do longa do Christopher Nolan, o que pode repetir o feito de “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo”  com duas nomeadas em atriz coadjuvante neste ano.  

Por outro lado, diferente da Jamie Lee Curtis e Stephanie Hsu que se equilibravam nas atenções na ficção científica dos Daniels, aqui, a Emily Blunt é figura muito mais predominante. Pode acontecer da Pugh ser sim indicada, mas, ainda corre por fora. 

A Vanessa Kirby está no aguardo do que será “Napoleão”: se o épico do Ridley Scott entregar o que promete, ela sobe rapidinho para as cabeças. Caso contrário, repete o que ocorreu com a Jodie Comer em “O Último Duelo”, ou seja, nada.  

Indicada uma única vez por “Spotlight”, no distante 2016, a Rachel McAdams deseja voltar à festa com “Are You There God? It’s Me, Margaret”. A comédia recebeu bastante elogios no primeiro semestre e tem um reconhecimento da parte cult da cinefilia, mas, ainda assim, precisa de muito mais para conseguir ter visibilidade nesta temporada e, quem sabe, repetir o feito da Melissa McCarthy, lembrada pela Academia pelo improvável e ótimo “Missão Madrinha de Casamento”. 

E ainda tem a Juliette Binoche correndo por fora com “O Sabor da Vida”. O candidato francês ao Oscar de Filme Internacional foi muito elogiado em Cannes e não duvido se surpreender com algumas nomeações fora do esperado. Fora que a atriz francesa já fez alguns milagres na Academia como, por exemplo, a vitória em coadjuvante por “O Paciente Inglês” quando se imaginava a estatueta indo para a Lauren Bacall e “Chocolate” ir longe demais na cerimônia de 2001. 

CHANCES MÉDIAS

Rosamund Pike abre o time das candidatas com chances médias. Em “Saltburn”, ela interpreta a mãe de Felix e amigo do protagonista. A personagem é estranha anfitriã da casa onde os acontecimentos do suspense da Emerald Fennell se desenrola. A atriz é bastante querida em Hollywood – vale lembrar que, além da indicação por “Garota Exemplar“, ela ficou próxima do que seria uma surpreendente nomeação por “Eu Me Importo” – e está em uma produção com chances de crescer na temporada. Hoje, a coloco em segundo plano, mas, sem descartá-la totalmente. 

No meio de um elenco predominante masculino, a Viola Davis dá as cartas e movimenta a trama em “Air – A História por Trás do Logo”. E justamente a força da principal atriz negra em Hollywood na atualidade pode fazê-la obter a nomeação que representaria o longa do Ben Affleck nas categorias de atuação.  

Das muitas opções em “Barbie”, vejo a America Ferrera na frente na disputa por uma vaga em atriz coadjuvante. Para além do simbolismo latino, a personagem dela representa uma geração de garotas que fizeram da boneca um símbolo cultural. Não duvido nada a Warner trabalhar demais isso na campanha.  

Já a Kate McKinnon aparece em segundo plano, mas, com possibilidades sim de conseguir a indicação. Afinal, ela é a Barbie destoante no meio da perfeição e que provoca a virada nos rumos da história. Pena que a personagem seja tão mal aproveitada na reta final, o que pode deixar uma sensação amarga para muitos votantes na impressão geral. 

GRANDES CHANCES

A partir de agora, somente candidatas com grandes chances de indicações e, provavelmente, três delas estarão na lista final do Oscar 2024. Três ganhadoras vencedoras da estatueta dourada, inclusive, buscam retornar à festa. 

Sempre que se fala de “Ferrari”, a Penélope Cruz é um dos assuntos mais comentados. A estrela espanhola interpreta a amargurada esposa do personagem do Adam Driver e em luto pela morte do filho. Uma personagem típica de ser abraçada na temporada de premiações e que a coloca forte para a quinta nomeação da carreira. 

Com a Natalie Portman sofrendo por conta da grande concorrência em Melhor Atriz, a Julianne Moore deve ser a representante de “Segredos de um Escândalo” nas categorias de atuação. Vivendo uma mulher que rememora o difícil início do relacionamento com o marido por ele, na época, ser um adolescente, a estrela conta com a narrativa de não ser indicada ao Oscar desde 2015. Teoricamente deverá ser o foco da Netflix na categoria. 

Falando em ausência no Oscar, o que dizer da Jodie Foster? Duas vezes vencedora de Melhor Atriz, ela teve a última nomeação em 1995 por “Nell”. Logo, vejo grandes possibilidades da Academia trazê-la de volta com “Nyad”. A dobradinha com a Annette Bening foi bem-recebida em Telluride, inclusive, sendo apontado que Foster é o nome forte do elenco.  

E cá entre nós que tanto a Academia quanto o público estão com saudades de ver a Jodie Foster em alto nível. Pode até não ganhar, mas, acredito que deva aparecer na lista.  

Já a Sandra Huller tenta repetir feitos alcançados por Scarlett Johansson, Cate Blanchett, Jamie Foxx, Julianne Moore, Emma Thompson, Holly Hunter, Al Pacino e outros cinco nomes da indústria: ser nomeado no mesmo ano em duas categorias de atuação diferentes. Por “Anatomy of a Fall”, ela provavelmente será indicada em Atriz e, aqui em coadjuvante, a alemã tem grandes chances com “The Zone of Interest”. Caso isso aconteça, será a primeira vez do feito ser alcançado por uma intérprete de filmes de língua não-inglesa. 

FAVORITAS

Originalmente, a Lily Gladstone era mais do que favorita: a estrela de “Assassinos da Lua das Flores” iria vencer a categoria facilmente. A questão se tratava de saber quais seriam as outras quatro nomeadas. A decisão da Universal Pictures de deslocá-la para Melhor Atriz abriu uma inesperada disputa pelo favoritismo. Neste momento, dois nomes surgem com possibilidades para assumir a dianteira. 

Consagrada nos palcos com a peça “Ghost the Musical” e após o ótimo desempenho em “Meu Nome é Dolemite”, a Da’Vine Joy Randolph encontra o trabalho para mudar de patamar na indústria do cinema em “The Holdovers”. A partir do texto sempre excelente do Alexander Payne a ser explorado por grandes atores, ela faz uma mãe de luto pela perda do filho e gerente da cafeteria onde passa o Natal ao lado dos personagens do Paul Giamatti e do Dominic Sessa.  

É um trabalho que entrega drama e humor no melhor estilo que a Academia gosta. Tudo muito tentador para fazer a Da’Vine Joy Randolph ganhadora de Atriz Coadjuvante. Porém, tem uma estrela querida do público, no filme favorito da temporada e lutando para finalmente ser reconhecida pelo Oscar. 

A Emily Blunt tentou de todas as formas ser indicada: de “Sicario” a “A Garota no Trem” até “O Retorno de Mary Poppins”, não faltaram esnobadas. “Oppenheimer”, finalmente, deve virar o jogo: no longa do Nolan, ela interpreta a esposa do físico carregando todas as pressões provenientes da missão do marido.  Se a nomeação é certa, o caminho rumo à vitória pode repetir o que houve neste ano, quando a Jamie Lee Curtis ganhou na primeira indicação após anos sendo preterida pela Academia. 

Toda esta história, porém, pode ir por água abaixo se acontecer um movimento que certamente irá dividir opiniões. 

Nas últimas semanas, a imprensa americana especula que a Netflix possa fazer uma mudança de estratégia em relação à Carey Mulligan. Pelo plano, a estrela de “Maestro” sairia da corrida de Melhor Atriz para ser deslocada para cá, onde, teoricamente, venceria fácil. Se por um lado, há um clamor de que já passou da hora de premiá-la e fraudes de categoria como essa são para lá de comuns – que o diga a Viola Davis, em “Um Limite Entre Nós” – por outro, uma mudança assim tão descarada pode causar rejeição de uma parte dos votantes que, até mesmo, podem elegê-la para atriz principal. 

De qualquer modo, se a Carey Mulligan, acaba a corrida e ela deve ser a favorita. Caso contrário, a categoria continua um mistério. 

SE AS INDICAÇÕES FOSSEM OS HOJE, OS FINALISTAS SERIAM…

  • Da’Vine Joy Randolph, por “The Holdovers” 
  • Emily Blunt, por “Oppenheimer” 
  • Danielle Brooks, por “A Cor Púrpura” 
  • Jodie Foster, por “Nyad” 
  • Penélope Cruz, por “Ferrari” 

A surpresa ficaria por conta ou da Carey Mulligan, por “Maestro”, ou da Sandra Huller, de “The Zone of Interest”.