Caio Pimenta analisa o impacto das indicações ao Bafta para a corrida rumo às indicações do Oscar 2022 no próximo dia 8 de fevereiro. 

Para começo de conversa, é preciso situar o calendário da temporada de premiações.

No dia 12 de janeiro, o Bafta divulgou a longlist, uma pré-seleção de quem continuava na disputa pelas indicações. A votação para os indicados ao Oscar iniciou duas semanas depois no dia 27 de janeiro terminando no dia 1 de fevereiro. E, finalmente, no dia 3 saíram os nomeados ao evento britânico. 

Diante destas circunstâncias, evidente que muitos votantes do Bafta podem ter ido no embalo e feito escolhas similares no Oscar.

Por outro lado, a Academia traz uma quantidade mais ampla não apenas de corpo votante dos EUA como internacional, os quais grande parte não são participantes do Bafta. 

Não dá para esquecer ainda a importante participação de um comitê no prêmio britânico para contribuir em um maior equilíbrio entre indicados por gênero e raça, algo que não existe no Oscar – ainda que seja necessário salientar o trabalho da Academia em apoiar medidas para buscar maior diversidade.

Isso pode provocar divergências naturais nas listas de cada premiação. 

Feito este prólogo, vamos às principais categorias. 

MELHOR FILME  

O Bafta não provocou maiores sustos na categoria de Melhor Filme. 

“Belfast”, “Não Olhe Para Cima”, “Duna”, “Licorice Pizza” e “Ataque dos Cães” foram nomeados conforme o esperado. A decepção recaiu sobre “Amor, Sublime Amor” esnobado na categoria. 

Não aparecer aqui não significa que o musical do Steven Spielberg fique de fora da categoria no dia 8 de fevereiro – “Mank”, por exemplo, também foi esnobado ano passado e confirmou presença no evento da Academia sem dificuldades.

Porém, a última vez em que uma produção levou o Oscar de Melhor Filme sem ter sido indicada ao Bafta foi em 2005 com “Menina de Ouro”. 

Se havia alguma dúvida sobre as presenças de “Não Olhe Para Cima” e “Licorice Pizza” em Melhor Filme no Oscar, o Bafta resolveu encerrar esta questão.

Já entre a turma de Melhor Filme Britânico, “Casa Gucci” é quem surge com mais possibilidades de repetir o feito em Hollywood, além, claro, de “Belfast”. 

MELHOR DIREÇÃO 

Aqui, começa a bagunça já esperada trazida pelo Bafta. 

Jane Campion, por “Ataque dos Cães”, e Paul Thomas Anderson, de “Licorice Pizza” confirmaram suas vagas, Aleem Khan, por “After Love”, Audrey Diwan, de “Happening”, e Julia Ducournau, por “Titane”, foram as surpresas. A última vaga ficou com o Ryûsuke Hamaguchi, por “Drive My Car”. 

Quatro conclusões são possíveis de serem tiradas desta lista: 

  1. Jane Campion é a favorita disparada em Melhor Direção. Venceu o Globo de Ouro, está no Critics, DGA e Bafta. Tem tudo para se juntar a Kathryn Bigelow e Chloé Zhao; 
  2. além de talentoso, Paul Thomas Anderson é amado pela indústria. A presença dele aqui no Bafta praticamente o garante entre os finalistas do Oscar depois de já ter sido indicado ao DGA; 
  3. atenção para Ryûsuke Hamaguchi. A nomeação mostra que “Drive My Car” não é apenas querido pela crítica, mas, também há muitos apoiadores na indústria. Pawel Pawlikowski, Alfonso Cuáron, Bong Joon Ho e Thomas Vinterberg demonstram como o Oscar de Direção está atento ao que acontece para além dos filmes de língua inglesa; 
  4. por fim, mais do que Steven Spielberg ou Denis Villeneuve, esta lista deve preocupar e muito o Kenneth Branagh. Apesar da questão do comitê buscar a diversificação dos indicados, não ser indicado na própria casa mostra sim que ele pode repetir o feito do Ben Affleck com “Argo”. 

COADJUVANTES 


Caitriona Balfe, de “Belfast”, Jessie Buckley, por “A Filha Perdida”, Ariana DeBose, por “Amor, Sublime Amor”, Ann Dowd, de “Mass”, Aunjanue Ellis, de “King Richard” e Ruth Negga, por “Identidade” foram nomeadas. 

Boas notícias para a Ruth Negga que, mesmo em um filme enfraquecido na temporada de premiações, conseguiu emplacar nomeações ao SAG e ao Bafta, e a Aunjanue Ellis, reconhecida do outro lado do planeta após ser esnobada em casa no sindicato dos atores. A atriz de “King Richard” conquistou uma nomeação importantíssima para ela rumo ao Oscar. 

E se você ficou feliz com as nomeações da Ann Dowd e Jessie Buckley, melhor pular esta parte: as indicações ao Bafta poderiam ser boas não fosse a esnobada à Kirsten Dunst.

A estrela de “Ataque dos Cães” dificilmente ficará fora do Oscar.  

Logo, as cinco finalistas tendem a ser Aunjanue, Caitriona, Ariana, Negga e Dunst. 


Nos homens, Ciarán Hinds, de “Belfast”, Troy Kotsur, por “Coda”, Woody Norman, por “Sempre em Frente”, Mike Faist, de “Amor, Sublime Amor”, e a dupla de “Ataque dos Cães”, Jesse Plemons e Kodi Smit-McPhee foram indicados.
 

Como esta corrida está uma bagunça somente com o Kodi e o Troy garantidos, os demais nomeados ao Bafta ganharam um gás na reta final. 

Para o Oscar, vejo o Ciarán Hinds fortalecido após ter sido deixado de lado no SAG; acredito que ele conquista a vaga de “Belfast” na categoria”.

Apesar de esnobado no Bafta, ainda cravo minhas fichas na nomeação do Bradley Cooper, por “Licorice Pizza”. 

Quanto à última vaga, Jesse Plemons e Mike Faist estão crescendo demais na reta final e podem chegar superando o Jared Leto e Ben Affleck. 

MELHOR ATOR 

Em Melhor Ator, os favoritos Benedict Cumberbatch e Will Smith confirmaram suas vagas. Dos cotados ao Oscar, somente o Leonardo DiCaprio deu as caras. Já os demais não tem a mínima chance: Adeel Akhtar, por “Ali & Ava”, Stephen Graham, de “Boiling Point” e o Mahershala Ali, por “O Canto do Cisne”. 

Apesar de achar interesse estas indicações fora do radar por serem uma forma de mais gente conhecer novos filmes, a nomeação do Mahershala Ali é uma loucura total. 

Aqui, o Bafta foi tão fora da curva que não vejo influência alguma para as indicações do dia 8.

Quanto ao prêmio do Oscar de Melhor Ator, consolida a tendência de uma disputa centrada entre o Cumberbatch, protagonista do filme da temporada, e o Smith, astro querido do público com uma longa carreira em busca da sua primeira estatueta. 

Por fim, vale a nota sobre mais uma esnobada ao Denzel Washington que nunca foi nomeado ao prêmio britânico. É um negócio inacreditável. 

MELHOR ATRIZ 

Guardei o momento mais aguardado, claro, para o final. O Bafta de Melhor Atriz colocou muita gente para sonhar alto. 

Estão indicadas a Lady Gaga, por “Casa Gucci”, Tessa Thompson, de “Identidade”, Emilia Jones, por “Coda”, Renate Reinsve, de “A Pior Pessoa do Mundo”, Alana Haim, de “Licorice Pizza”, e Joanna Scanlan, por “After Love”. 

Queria muito ver a Tessa Thompson e, especialmente, a fofinha da Emilia Jones indicadas ao Oscar? Sem dúvida nenhuma.

Vai acontecer? Quase certo que não.

São muitas candidatas pesadas com narrativas consolidadas ao longa da temporada de premiações, fora que ambas estão em produções que devem ter coadjuvantes indicados como representantes dos seus ótimos elencos. 

Melhores chances estão a Renate e a Alana.

Na reta final das indicações, a Neon meteu a quinta marcha na campanha de “A Pior Pessoa do Mundo” e o buzz ecoou na imprensa norte-americana e nas redes sociais.

Pode ser uma surpresa estrangeira bem-vinda ainda que compita com a Penélope Cruz, também em alta, de “Madres Paralelas”.

Já a estrela de “Licorice Pizza” joga com a força e o carinho do filme na indústria. Que ela tenha melhor sorte que a Vicky Krieps, de “Trama Fantasma”. 

Sobre as esnobadas: não vejo prejuízo à Nicole Kidman. Impossível a Academia a esnobando ao interpretar a Lucille Ball em um filme falando sobre a indústria do entretenimento norte-americano.

São muitos fatores favoráveis para a estrela vencedora do Oscar por “As Horas”.

Já a Jessica Chastain tem que ficar preocupada, pois, está em um filme que não vingou na temporada.

Neste momento, depende mais da adoração dos votantes por transformações visuais radicais e por ela mesma, atriz respeitada e reconhecida pelo seu talento. 

Perigo mesmo, infelizmente, corre a Olivia Colman.

Apesar de ser, na minha visão, a melhor atuação da temporada, essa esnobada dentro de casa, onde é tão querida, demonstra que ela não está tão consolidada como parece.

Arrisco dizer que isso se deve bastante à personagem complexa dela em “A Filha Perdida”, uma figura difícil de ser abraçada pelo espectador. 

“E a Lady Gaga, Caio? Não vai falar dela, não?”. 

Não seja por isso: a estrela de “Casa Gucci” faz uma temporada de premiações excepcional com nomeações ao Globo de Ouro, Critics, SAG e, agora, ao Bafta.

Precisa acontecer uma tragédia gigante para ela não ser indicada ao Oscar. 

A indicação ao Bafta ainda representa um importante passo para uma possível vitória no dia 27 de março.

Afinal, desde 2014, todas as ganhadoras de Melhor Atriz no prêmio britânico levaram o Oscar da categoria. Dos prêmios principais dos dois eventos, é onde há a convergência nos últimos anos. 

Por outro lado, estar sozinha no Bafta entre as apontadas até então no Oscar como Nicole Kidman e Olivia Colman coloca uma pressão grande sobre a Lady Gaga.

Ela chega como a favorita disparada: se vencer, caminha para o sonho dos monstrinhos alimentado após “Nasce uma Estrela”; se perder, precisará de vitórias no SAG e no Critics para reverter a situação. 

Quanto à Kristen Stewart, infelizmente, se nem mesmo conquistou os britânicos, tão apaixonados pela Princesa Diana, fica improvável demais que reverta no Oscar.

Uma tristeza. 

OUÇA O PODCAST DO CINE SET SOBRE AS INDICAÇÕES AO OSCAR 2022: