Chegou a hora do Christopher Nolan? Ou o Martin Scorsese volta a vencer? Por que não a estranheza do Yorgos Lanthimos? Mas, quem sabe Greta Gerwig, a cineasta dos recordes em 2023? 

Neste novo post do Cine Set, você confere as previsões iniciais para a categoria de Melhor Direção no Oscar 2024. 

AZARÕES

A turma dos azarões, candidatos praticamente sem a menor chance, se abre com o David Fincher. O retorno do diretor aos thrillers com “The Killer” não chegou a ir mal em Veneza, mas, não foi tão aclamado como se esperava. Vejo um cenário muito próximo ao visto em “Millenium” e “Garota Exemplar” em que o cineasta era carta fora do baralho, o que não deixa também de mostrar o convencionalismo do Oscar, afinal, Fincher foi lembrado por “Mank”, um trabalho inferior aos dois suspenses. 

Sofia Coppola é outro nome improvável na categoria de Melhor Direção. Se o Baz Luhrmann não conseguiu figurar na categoria com uma produção mais badalada, imagina a diretora de “Priscilla”? Fora que a Academia possui, pelo menos, dois outros nomes femininos mais fortes na corrida para eleger. 

O George C. Wolfe teve a maior chance de indicação da carreira em “A Voz Suprema do Blues”, porém, o drama da Netflix ficou pelo caminho em Direção e Filme também. Imaginá-lo aqui por “Rustin” soa um grande exercício de ficção. A única possibilidade é ser o drama for extremamente bem-recebido para além do Colman Domingo. Improvável demais. 

O time fica completo com o Todd Haynes: falta holofote e maior buzz ao diretor que já foi esnobado pelos ótimos “Longe do Paraíso” e “Carol”. O cineasta californiano parece sempre ficar em segundo plano em qualquer debate de temporada de premiações. E novamente tende a ser eclipsado pelas estrelas de seu filme; em “May December”, o foco deve ficar com a Natalie Portman e Julianne Moore. 

CORRENDO POR FORA

Passando para a turma que corre por fora, temos dois gigantes de Hollywood. 

Por mais prestigiado que seja, o Michael Mann foi indicado a Melhor Direção apenas uma vez com “O Informante”, enquanto o Ridley Scott esteve na categoria três vezes, mas, perdeu todas elas. E se não houver nenhuma grande novidade, serão esquecidos novamente. A exibição de “Ferrari” em Veneza não deixou muitas saudades – ainda, é verdade, que passe longe de ser considerado um desastre. Para o Oscar 2024, acho que ficou para trás. 

Filmografia: Ridley Scott - Arte + Comércio

Já o Ridley Scott traz o ambicioso projeto de levar para as telonas a vida de Napoleão Bonaparte, um dos homens mais poderosos da história. Era para a expectativa estar mais alta, mas, o diretor anda tão longe do brilhante nos últimos anos que o melhor a fazer é esperar o lançamento para sabermos do potencial de “Napoleão”. 

Se quando teve nas mãos o melhor filme da temporada escolhido pela Academia, o Ben Affleck não foi indicado a Melhor Direção, por que acreditar que, agora, com “Air” seria diferente? Só o coloco correndo por fora pela possibilidade de ascensão na reta final se o longa surpreender nas indicações, algo viável pelos nomes fortes envolvidos na produção. 

O Craig Gillespie também corre por fora com a sátira “Dumb Money”. Já o Wes Anderson dobrou a aposta no estilo próprio em “Asteroid City”, uma dramédia de visual encantador e colorido. Porém, com a Focus Features mirando as forças em “The Holdovers”, corre o risco de ser abandonado. 

E ainda tem o Cord Jefferson correndo por fora. A vitória de “American Fiction” junto ao público do Festival de Toronto foi uma bem-vinda surpresa e colocou o cineasta estreante em longas-metragens no radar da Academia. Nomeações a Melhor Direção no trabalho de estreia são raras, mas, acontecem: foram os casos recentes da Emerald Fennell em “Bela Vingança” e Jordan Peele com “Corra”. Pelas forças dos rivais, porém, acho que a maior possibilidade é ele aparecer em Roteiro Original até com possibilidades de vitória. 

CHANCES MÉDIAS

Já que encerrei o time dos candidatos correndo por fora com um estreante, que tal começar a equipe com chances médias da mesma maneira? 

Diretora do elogiado “Past Lives”, a Celine Song busca uma vaga em Melhor Direção. Igual o Cord Jefferson, há o peso dos rivais e uma possibilidade de ser contemplada em Roteiro Original que poderia compensar uma esnobada aqui. Por outro lado, a condução singela e executada com bastante delicadeza pode ser um bem-vindo contraponto à grandiosidade dos demais indicados.   

Já a Emerald Fennell busca a segunda indicação consecutiva na categoria após o sucesso de “Bela Vingança”. Apesar de não ter ido tão bem em Veneza, “Saltburn” conta com espaço para se recuperar nesta temporada de premiações.

Também prestigiada na Academia, a Ava DuVernay chega com “Origem” e é outro nome com chances médias de aparecer em Melhor Direção. 

Inicialmente, coloco o Blitz Bazawule com chances médias nesta briga pelo Oscar de Melhor Direção pelo simples fato de “A Cor Púrpura” ainda não ter sido colocado para jogo pela Warner Bros no circuito de festivais. Caso seja um sucesso, as possibilidades sobem rapidamente, porém, vale lembrar que o Steven Spielberg foi esnobado na categoria na primeira adaptação. A conferir. 

O Bradley Cooper pode dançar na categoria se os votantes entenderem que ele já estará demasiadamente prestigiado em Filme, Roteiro Original e, principalmente, Ator, em que surge como um dos principais postulantes à estatueta. Um cenário idêntico ao visto em 2019 com “Nasce uma Estrela”. 

Hayao Miyazaki

Por fim, Hayao Miyazaki tentará desafiar a estatística de nunca um diretor de animação conseguir concorrer na categoria. “The Boy and the Heron” credencia o mestre japonês a sonhar com a possibilidade após o sucesso absoluto nos cinemas do país e a ótima recepção em Toronto. Fora que as nomeações recentes de diretores vindos do circuito de língua não-inglesa como Ryusuke Hamaguchi, por “Drive my Car”, Thomas Vintenberg, por “Druk”, e Bong Joon-Ho, de “Parasita”, fortalecem essa chance. 

GRANDES CHANCES

Detentora de recordes de bilheteria e comandante do maior sucesso comercial de 2023, a Greta Gerwig busca uma nova indicação em Melhor Direção com “Barbie”. Se por um lado, a concorrência está acirrada e a superprodução da Warner é divisiva por si só, há também muitos apoiadores dela na Academia e, principalmente, nas redes sociais para pressionar o Oscar a não a esquecer.  

Fora os riscos que correu em uma adaptação que passa longe de ficar no comodismo de agradar a todos ao enfatizar o discurso feminista e ridicularizar a sociedade patriarcal. Com certeza, a Greta será um dos nomes mais visados da categoria. 

A Justine Triet também é outro nome com grandes chances em Melhor Direção. “Anatomy of a Fall” representa um salto na qualidade das obras dela e a conquista da Palma de Ouro simbolizou isso. Pode até não ter forças para sair vencedor, mas, vejo o longa francês chegando com capacidade para obter nomeações nas categorias principais.  

Importante ressaltar que a Academia está pressionada na categoria pelo fato do Oscar 2023 não ter nomeado nenhuma mulher. Logo, vejo a Triet e a Greta como as maiores possibilidades de indicações – se bobear, aliás, as duas podem estar entre as finalistas. 

“The Holdovers” pode fazer o Alexander Payne se igualar a nomes como Francis Ford Coppola, Clint Eastwood, Federico Fellini e Stanley Kubrick com quatro nomeações ao Oscar de Melhor Direção. E as chances são altas, afinal, a recepção ao longa de Natal foi para lá de positiva no Festival de Toronto entre público e crítica. E o cinema do Payne traz elementos adorados tradicionalmente pela Academia: uma boa história capaz de dar ao elenco a oportunidade de brilhar e um diretor inteligente suficiente para explorar isso ao máximo.  

E ainda tem o Jonathan Glazer que pode repetir o Todd Field. Ambos passaram mais de uma década longe dos cinemas e voltaram em grande estilo. O Field com “TÁR” e o Glazer com “The Zone of Interest”. O candidato ao Oscar 2024 traz aquilo que vem sendo considerada a melhor abordagem do conceito de ‘a banalidade do mal’ visto nas telonas a partir de uma família nazista vivendo nos arredores do campo de concentração de Auschwitz. Vejo uma das cinco vagas próxima de garantida para ele. 

FAVORITOS

Martin Scorsese

Senhoras e senhores, vamos aos favoritos. E são os mesmos três candidatos que aponta na dianteira de Melhor Filme. 

O Martin Scorsese abre a lista com “Assassinos da Lua das Flores”. Aqui, o retrospecto joga ao favor do genial cineasta: dos últimos oito filmes, o novaiorquino obteve seis indicações a Melhor Direção, sendo vencedor em 2007 por “Os Infiltrados”. Logo, a expectativa é para a décima indicação, o que o faria ficar atrás apenas de William Wyler com 12. 

Justamente por ser nomeado tantas e tantas vezes que sinto que há uma dúvida por parte dos votantes de quando voltar a dar o Oscar para o Scorsese. Afinal, se existe sempre a possibilidade dele ser indicado, por que não prestigiar um outro importante nome com um grande trabalho, mas, que não aparece sempre?  

Meu medo é que isso aconteça novamente aqui, independente da qualidade ou não de “Assassinos da Lua das Flores” – uma novela, aliás, já vista com A Invenção de Hugo Cabret”, “O Lobo de Wall Street” e “O Irlandês”. 

Em 2019, a Academia já sinalizou positivamente ao cinema do Yorgos Lanthimos com as 10 indicações de “A Favorita”, incluindo, a dele em Melhor Direção. A tendência é que “Pobres Criaturas” seja o match definitivo com, talvez, ainda mais nomeações para o longa da Seachlight Pictures.  

Como disse no vídeo anterior, a estranheza da vitória de “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo”  abre possibilidades claras para o cinema mais ‘diferentão’ do Lanthimos passar longe de qualquer rejeição e ser abraçado pela Academia. Por outro lado, justamente isso pode fazer o Oscar dar dois passos para trás e preferir um candidato mais clássico.

E aí entra o Christopher Nolan. 

Se houvesse um check list para ganhar Melhor Direção, pode-se dizer que o Nolan cumpre à risca o manual com “Oppenheimer”. Do rigor técnico mais do que apurado passando pelo controle absoluto da narrativa e da trama, afinal, também assina o complexo roteiro, à reunião do elenco repleto de estrelas muito bem conduzido até chegar à luta para manter a data de estreia mesmo enfrentando “Barbie”. 

Tudo isso em um drama político de 3 horas de duração e que, mesmo assim, se transformou em um sucesso comercial ao redor do planeta. E o reconhecimento a todos estes feitos pode ser capaz de bloquear qualquer tipo de narrativa contrária à vitória dele e do próprio filme. 

Sem querer comparar qualidade, “Oppenheimer” está para o Nolan o que foi “A Lista de Schindler” para o Steven Spielberg e “Titanic” para o James Cameron na relação destes diretores para com o Oscar. É a obra que redefine o status dele perante a Academia. 

Resta saber se a novela termina da mesma forma com vitória dele ou terá um final diferente. 

Vamos então às previsões iniciais de quem serão os indicados ao Oscar 2024 em Melhor Direção. 

Se as nomeações fossem hoje, acredito que estariam na lista:

  • Christopher Nolan, por “Oppenheimer”
  • Martin Scorsese, de “Assassinos da Lua das Flores”
  • Yorgos Lanthimos, de “Pobres Criaturas”
  • Justine Triet, por “Anatomy of a Fall”
  • Jonathan Glazer, de “The Zone of Interest”