Caio Pimenta analisa quais os esnobados e as surpresas da lista de indicados do Oscar 2021 revelada neste dia 15 de março.
SURPRESAS
Surpresas são sempre uma faca de dois gumes: tem aquelas muito legais e outras questionáveis. Em Melhor Documentário, por exemplo, a gente teve uma boa: o chileno “Agente Duplo”, disponível na Globoplay, foi nomeado e, com isso, se torna a única produção latina no Oscar 2021 e aumenta a força do cinema do país na premiação. Nos últimos cinco anos, o Chile já venceu duas estatuetas: em 2016 com o curta “A História de um Urso” e, dois anos depois, com “Uma Mulher Fantástica” em Filme Internacional.
Nas categorias técnicas, a principal surpresa foi “Meu Pai” nomeado em Design de Produção. Raro vermos uma produção contemporânea por aqui e superando filmes de época como “Os Sete de Chicago” ou de fantasia como “Mulan”.
Em Efeitos Visuais, “O Grande Ivan” e, principalmente, “Love and Monsters” foram as grandes surpresas assim como os “Better Days”, de Hong Kong, e “O Homem que Vendeu Sua Pele”, da Tunísia, em Filme Internacional. Já em Roteiro Adaptado, “Borat 2” e “O Tigre Branco” repetiram o feito que tinham conseguido no WGA Awards, o prêmio do sindicato da categoria.
As categorias de atuação foram naquilo que esperávamos, mas, ainda assim, resolveu duas surpresas e todas em Ator Coadjuvante.
Por “O Som do Silêncio”, Paul Raci se recuperou das esnobadas no SAG e Globo de Ouro para ser lembrado na Academia. Já Lakeith Stanfield, por “Judas e o Messias Negro”, rendeu a indicação mais polêmica.
Afinal de contas, é estranho demais um filme ter seus dois atores principais nomeados em coadjuvante. O jeitinho para encaixar o Stanfield na categoria já o coloca como uma das grandes fraudes de categoria dos últimos anos.
Por fim, a boa surpresa da lista foi a inclusão do Thomas Vinterberg em Melhor Direção de “Another Round”. O diretor, um dos nomes fortes do Dogma 95 ao lado do Lars Von Trier, agora, chega ao mainstream definitivamente e mostra como a categoria cada vez mais está internacional: Bong Joon-ho, Alfonso Cuáron, Alejandron González Iñarritu, Guillermo Del Toro, Paweł Pawlikowski, Yorgos Lanthimos foram bons exemplos recentes.
ESNOBADOS
Agora, claro, chegou a hora mais divertida. Afinal, tem coisa melhor do que criticar o Oscar pelos filmes e atuações que ficaram de fora? Inicio a lista de esnobados com Melhor Documentário e as ausências de “As Mortes de Dick Johnson”, da Netflix, e “Boys State”, da Apple. O segundo, especialmente, era muito cotado, porém, mais uma vez, a categoria deixa um dos grandes candidatos de fora como ocorrera com “Apollo 11”, em 2020, e “Won´t You Be My Neighboor?”, em 2019.
Das categorias técnicas, “Bem-Vindo à Chechênia” não emplacou a tão esperada vaga em Efeitos Visuais, enquanto “Mank”, apesar de liderar a corrida com 10 indicações, ficou de fora de Melhor Montagem, complicando suas chances rumo a Melhor Filme.
Falando de algo que nos toca, o cinema latino-americano foi completamente deixado de lado em Melhor Filme Internacional. Tínhamos três candidatos – o chileno “Agente Duplo”, “La Llorona”, da Guatemala, e “Ya No Estoy Aquí”, do México – e todos ficaram de fora. A lista novamente se voltou para a Europa e Ásia.
Em Roteiro Adaptado, “A Voz Suprema do Blues” e “Relatos do Mundo” ficaram de fora, perdendo as vagas para “Borat 2” e “O Tigre Branco”. Já “Mank” levou mais uma dura pancada ao ser esnobado entre os originais. Curioso que a produção da Netflix é roteirizada pelo pai de David Fincher, sendo o filme uma homenagem a ele.
Jodie Foster empolgou todo mundo com a vitória no Globo de Ouro por “The Mauritanian”, porém, a reação parece que veio tarde demais e a esnobada veio no Oscar. Helena Zengel, por “Relatos do Mundo”, também ficou de fora em uma categoria das mais imprevisíveis.
Felizmente, a Academia não caiu na armadilha Jared Leto, por “Os Pequenos Vestígios”. Ainda bem. Por outro lado, o Oscar de Ator Coadjuvante deixou de lado as belas atuações do Alan Kim, por “Minari” e Bill Murray, por “On the Rocks”.
Em Melhor Ator, os esnobados foram Delroy Lindo, de “Destacamento Blood”, e Mads Mikkelsen, por “Another Round”. Preferiram o Gary Oldman, de “Mank”. Vai entender. Já em direção, se o Aaron Sorkin não faz falta, lamento demais a ausência da Regina King, de “Uma Noite em Miami”: seria incrível vê-la como a primeira mulher negra nomeada em Direção.
Em Melhor Filme, “A Voz Suprema do Blues”, “Relatos do Mundo” e “Uma Noite em Miami” ficaram pelo caminho.
Não lamento tanto por nenhum deles, apesar de gostar bastante do filme da Amazon. Agora, é inacreditável ver “Destacamento Blood”, “Nunca Raramente às Vezes Sempre” e “First Cow” sem nenhuma indicação. Para mim, são três dos melhores filmes de 2020 e não ver, por exemplo, o Delroy Lindo indicado a Melhor Ator e, pelo menos, os roteiros dos longas da Eliza Hittman e da Kelly Reichart nomeados deixa uma lacuna grande na temporada de premiações. Mostra também como filmes lançados antes do segundo semestre foram totalmente esquecidos.