Caio Pimenta apresenta quais os melhores trabalhos dos indicados ao Oscar 2023 em atuações coadjuvantes e principais, além de direção.

OS COADJUVANTES 

Quase sempre os prêmios de coadjuvantes ajudam a revelar atores até então pouco conhecidos do grande público ou ainda em início de carreira. Nesta temporada, temos dois casos. 

Antes de ser a filha problemática da Michelle Yeoh em “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo”, a Stephanie Hsu se destacou na excelente “Maravilhosa Mrs Maisel”. Ela entrou na terceira temporada da série disponível no Prime Video interpretando Mei.  

Grande parte do público conhece o Barry Keoghan como o novo Coringa na participação especial dele no recente “Batman” ou em “Eternos”, da Marvel. O melhor trabalho dele antes de “Os Banshees de Inisherin”, entretanto, foi ao lado justamente do Colin Farrell em “O Sacrifício do Cervo Sagrado”, do Yorgos Lanthimos.  

O Oscar 2023 ainda ajudou uma turma que vinha se destacando, mas, que a nomeação ajuda a consolidar dentro do cenário mundial. 

A Hong Chau é um dos casos: após ser cotada para a mesma categoria por “Pequena Grande Vida”, ela aparece no Oscar com “A Baleia”. Antes do drama ao lado do Brendan Fraser, minha atuação favorita dela foi em “O Menu”: em um papel pequeno, ela rouba a cena como o braço direito do maluco chef interpretado pelo Ralph Fiennes. 

O Brian Tyree Henry já deveria ter sido nomeado anteriormente ao Oscar pelo desempenho em “Se a Rua Beale Falasse”. Com apenas uma cena, ele dimensiona os traumas do encarceramento em massa de negros nos EUA. 

Em menor escala, a Kerry Condon não teve grandes oportunidades no cinema antes de “Inisherin”, porém, vale destacar as pequenas participações em “Três Anúncios Para um Crime” como assistente do dono dos outdoors. Ela aproveita cada segundo em cena com um humor estranho que casa bem com a proposta do Martin McDonagh. 

A lista de coadjuvante, claro, sempre resgata aqueles nomes que estavam por baixo, mas, mereciam novamente o estrelato. 

Que o diga a Angela Bassett em sua bela indicação por “Wakanda Forever”. É o retorno ao Oscar após a excelente interpretação de Tina Turner na cinebiografia da cantora, justo seu melhor momento nas telonas.  

Também dá para citar o Ke Huy Quan que surgiu no cinema como o falante parceiro de Indiana Jones em “Templo da Perdição” antes de voltar com o trabalho marcante em “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo”.  

O Judd Hirsch completa este time também voltando ao Oscar após o belo desempenho dele em “Gente como a Gente” em que interpretava o terapeuta do personagem do Timothy Hutton.

E, claro, que há aqueles atores que você não acredita de terem sido indicados ao Oscar pela primeira vez somente agora. 

O Brendan Gleeson, por exemplo, já merecia a indicação pela parceria anterior com o McDonagh em “Na Mira do Chefe” ao interpretar um matador de aluguel em Bruxelas.

E a Jamie Lee Curtis? Seria tentador citar “Halloween”, franquia pela qual ganhou o título de Rainha do Grito, ou até a parceria para lá de divertida com a Lindsey Lohan em “Sexta-Feira Muito Louca”, mas, o melhor trabalho dela nos cinemas foi em “True Lies” em uma divertida e sexy parceria com o Arnold Schwarzenegger. 

Por “True Lies”, a Jamie Lee Curtis chegou a vencer o Globo de Ouro de Melhor Atriz em Comédia ou Musical, porém, o Oscar a ignorou. 

ATUAÇÕES PRINCIPAIS 

O Oscar sempre gosta de apontar as futuras estrelas do cinema mundial. Três indicados são apostas que têm tudo para se tornarem certeiras pelo imenso talento. 

O Austin Butler encontrou o grande personagem da carreira em Elvis Presley. Antes disso, o papel de maior destaque foi uma pequena participação em “Era uma vez em Hollywood”, do Quentin Tarantino, interpretando um dos assassinos de Sharon Tate.  

 Já o Paul Mescal comoveu o público na série “Normal People” em que vive os encontros e desencontros de um romance ao lado da personagem da Daisy Edgar-Jones. A série virou hit pelo retrato honesto e real do amor na transição para a vida adulta.  

E ainda tem a Ana de Armas: apesar da grande atuação, “Blonde” passa longe de ser o melhor filme da carreira dela – ainda que se possa considerar seu melhor trabalho. A honraria cabe a “Entre Facas e Segredos” em que não se inibe diante um elenco pesado e cria um contraponto interessante àquela elite esnobe. 

Também dá para citar “Blade Runner 2049” entre os grandes filmes da Ana de Armas, porém, vejo ela em um papel de maior destaque no suspense do Rian Johnson. Agora, é hora de falar de dois atores que reencontraram o prestígio nesta temporada. 

Polêmicas à parte, a Andrea Riseborough realmente encontra o papel da vida em “To Leslie”. Anteriormente, o maior destaque tinha sido a participação em “Black Mirror”. No terceiro episódio da quarta temporada, a britânica interpreta uma mulher que esconde um passado marcado por omissões e assassinatos. 

Já o Brendan Fraser está de volta com “A Baleia”. Ainda que adore “A Múmia” e “George – O Rei da Floresta”, considero “Deuses e Monstros” como o grande papel da carreira dele antes do retorno triunfal neste ano. 

Indicado este ano por “Living”, o Bill Nighy começou a explodir já veterano com a hilária participação dele em “Simplesmente Amor” interpretando um roqueiro solitário doidão, mas, de coração mole. Já a Michelle Yeoh fez inúmeros filmes na Ásia e nos EUA, mas, impossível não lembrar dela em “O Tigre e o Dragão”, clássico do Ang Lee. 

Do Colin Farrell destaco “Por Um Fio”, suspense de primeira linha do Joel Schumacher em que vive um arrogante empresário que acaba ficando todo humilde ao ser ameaçado dentro de um orelhão público em Nova York. Faço ainda uma menção honrosa a atuação incrível dele em “O Sonho de Cassandra”. 

Apesar da cena devastadora da conversa dela com o Casey Affleck em “Manchester à Beira-Mar“, escolho “O Segredo de Brokeback Mountain” como o grande desempenho da Michelle Williams. É comovente ver a angústia dela em tentar agradar sem sucesso ao personagem do Heath Ledger. Foi a primeira indicação dela ao Oscar. 

Carol, com Cate Blanchett

Quanto à Cate Blanchett, o desafio é maior. Escolher entre “O Senhor dos Anéis”, “O Aviador”, “Notas sobre um Escândalo” e “Blue Jasmine” é páreo duro, mas, elejo “Carol” como a maior atuação dela: a australiana hipnotiza sempre ao entrar em cena, seja pela beleza, seja pela firmeza. Isso realça quando ela perde o mundo ao se ver vítima da repressão contra o romance com a personagem da Rooney Mara. 

“TÁR”, entretanto, para mim, hoje, é a grande atuação da carreira da Blanchett, o que demonstra o nível que ela alcançou no drama do Todd Field. 

DIREÇÃO 

Dos cinco indicados a Melhor Direção, dois possuem filmografias bem curtas. 

Os Daniels, por exemplo, lançaram apenas “Um Cadáver Para Sobreviver” antes de “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo”. Mesmo longe do brilhante, é uma comédia divertida e bem maluca com o Daniel Radcliffe e o Paul Dano. 

“TÁR” é apenas o terceiro longa da carreira do Todd Field. Gosto de “Entre Quatro Paredes”, mas, meu favorito segue sendo “Pecados Íntimos”, um filme sobre desejos, repressões e medos dentro da imagem de perfeição da classe média norte-americana com uma grande atuação da Kate Winslet. 

força maior

Para quem pensa que vou no óbvio em relação ao Martin McDonagh e ao Ruben Ostlund, sinto desapontar. 

Prefiro “Na Mira do Chefe” do que “Três Anúncios Para um Crime” na filmografia do britânico. O humor irônico casado com um ar trágico que os protagonistas carregam ganha força com um elenco muito bem encaixado liderado por Colin Farrell, Brendan Gleeson e o Ralph Fiennes. Uma comédia capaz de tocar em assuntos sensíveis com tamanha inteligência não é todo dia de se achar por aí. 

Antes de resolver atacar tudo e todos, o Ostlund já foi mais articulado e preciso em suas críticas sociais. “Força Maior” mostra bem isso ao questionar o secular papel masculino de proteção a partir de um incidente peculiar e filmado com uma ironia fina. Muito melhor que o remake norte-americano com o Will Farrell, “The Square” e o recente “Triângulo da Tristeza”. 

Indiana Jones

Por fim, Steven Spielberg: escolher um filme é cruel demais, afinal, opções não faltam. 

Para não ficar em cima do muro, elejo como melhor “Indiana Jones e os Caçadores da Arca Perdida”. É a aventura perfeita com o ator perfeito, a trilha perfeita, as sequências de ação combinadas com o humor de forma perfeita… enfim, é praticamente impossível achar defeito. 

Ressalto também dois trabalhos que considero injustos ficarem em segundo plano na filmografia do mestre: “Prenda-me Se For Capaz” em que Spielberg se diverte contando a história do golpista vivido pelo Leonardo DiCaprio, e “Munique”, drama mais sóbrio e consistente do diretor.