Caio Pimenta analisa as estratégias e as opções dos principais estúdios de Hollywood rumo ao Oscar 2023.

OS INDEPENDENTES 

Queridinhos do público, os estúdios independentes chegam ao Oscar com boas expectativas de vitórias em categorias importantes. É o caso, por exemplo, da A24. 

A empresa traz o sucesso de “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo” como carro-chefe para a temporada de premiações. As maiores chances do filme residem em Melhor Atriz com a Michelle Yeoh, Roteiro Original e Montagem.

Ainda há a possibilidade de levar Melhor Ator com o Brendan Fraser em “The Whale”. Os dois longas têm boas chances de chegarem à Melhor Filme, mas, sem chances de repetirem o feito de “Moonlight”.  O estúdio também pode fazer bonito em Melhor Filme Internacional com o belga “Close”.  

 “The Inspection” e “Aftersun” são outras possibilidades mais distantes da A24.

A Focus Features, entretanto, não fica para trás: braço da Universal Pictures para o cinema independente, a empresa chega com “TÀR” para brigar forte em Melhor Atriz. Cate Blanchett saiu vencedora de Veneza e pode levar a terceira estatueta dourada da carreira. Todd Field em Direção, Nina Hoss em Atriz Coadjuvante e Roteiro Original são apostas boas de indicações ainda que sem muitas chances de vitória.  

“Armageddon Time” luta contra a sina azarada do James Gray no Oscar. Pode ser que role nomeação em Roteiro Original e para a Anne Hathaway em coadjuvante, mas, a tendência, neste momento, é ficar sem nada. Por fim, a Focus Features ainda tem “O Homem do Norte” para as categorias técnicas. 

A Neon surpreendeu o mundo em 2020 ao fazer “Parasita” ganhador do Oscar. Será que eles realizam um novo feito impressionante no ano que vem? 

A missão caberá a “All the Beauty and the Bloodshed”: o documentário da Laura Poitras ganhou o Leão de Ouro em Veneza e pode ser o primeiro do gênero na categoria máxima. Se a vitória parece improvável demais, indicações a Melhor Filme e, talvez, Direção são possíveis. 

Vencedor da Palma de Ouro, “Triangle of Sadness” é outro candidato para fechar a lista dos 10 indicados a Melhor Filme. A questão é saber se a Academia compra o estilo ácido e irônico do Ruben Östlund.  

CANDIDATOS ÚNICOS 

Alguns estúdios chegam ao Oscar 2023 apostando suas fichas em um único candidato. 

É o caso da Disney: “Wakanda Forever” carrega a esperança do estúdio do Mickey surgir em Melhor Filme com uma de suas superproduções. Os demais longas da Marvel – “Doutor Estranho no Multiverso da Loucura” e “Thor: Amor e Trovão” – são esperanças apenas nas tradicionais áreas técnicas e, mesmo assim, correndo risco de ficarem de fora.   

Pior é a situação em Melhor Animação: o domínio da Disney está ameaçado após o fracasso de “Lightyear”. Lançado em março deste ano, o excelente “Red” pode ficar esquecido, enquanto “Mundo Estranho” é a esperança que resta para a vitória. 


A 20th Century Studios até tinha dois candidatos, mas, já deixou um de lado.  

Nem mesmo as presenças de Christian Bale, Margot Robbie e John David Washington foram suficientes para convencer a crítica sobre “Amsterdam”. O novo filme do David O. Russell está sendo considerado o flop da temporada com média de avaliação de 40% no Rotten Tomatoes e 50% no Metacritic. 

Sobrou, mais uma vez, para James Cameron e o seu aguardado “Avatar: O Caminho da Água”. O poder do diretor em criar espetáculos técnicos e visuais capazes de surpreender a todos nunca pode ser subestimado como já provou no primeiro filme e em “Titanic” – ambos caíram no gosto do Oscar.  

MUITAS OPÇÕES E POUCAS CHANCES 

Três estúdios estão com bastante opções, mas, prêmio que é bom, parece que não vão ver.  

Que o diga a Sony: o estúdio viu “The Son”, sua maior aposta, não empolgar muito em Veneza a ponto do Hugh Jackman não ser mais considerado nome tão certo assim em Melhor Ator. Acredito ainda em Melhor Filme e Roteiro Adaptado, mas, somente para ser nomeado.

“A Mulher Rei” tem a questão da representatividade da mulher negra em um espaço raro de ser visto – protagonista de um drama épico de ação -, mas, a forte concorrência pode atrapalhar. Melhor exemplo disso é a Viola Davis, hoje, correndo por fora para vencer Melhor Atriz.  

“I Wanna Dance with Somebody” e “Living” jogam todas as fichas nas protagonistas, respectivamente, Naomi Ackie e Bill Nighy, mas, sofrem com o mesmo problema da Viola. E ainda há o remake de “Um Homem Chamado Ove” com o Tom Hanks e a esperança de ser o feel good movie do ano.  

A Warner Bros tem boas chances de sair como o estúdio mais indicado da temporada.  

Afinal, a excelência técnica de “Elvis” e “Batman” deve arrastar indicações no Oscar – muitas delas com os dois lado a lado e boas chances de vitória. Para as categorias principais, “Elvis” sai na frente com a presença em Melhor Filme e Ator 99% garantidas. O viés melancólico e triste do filme, diferente do consagrador de “Bohemian Rhapsody”, entretanto, dificulta as chances de vitória.   

Ainda assim a cinebiografia do Rei do Rock tem um predomínio no estúdio tão grande nesta temporada de premiações que eclipsou “Batman”: mesmo ovacionado pelo público e elogiado pela crítica, a superprodução do Matt Reeves sofre por ter sido lançada muito no início do ano. Hoje, está praticamente esquecido, o que demonstra quão efêmera é a vida de um blockbuster.  

Se as tretas não tivessem se sobreposto ao filme, “Não se Preocupe, Querida” deveria ser considerado, pelo menos, para Design de Produção e Maquiagem e Penteado, mas, parece que nem isso conseguirá. Por fim, o time da Warner ainda tem “DC Liga dos Superpets” para brigar por uma vaga em Melhor Animação. Em um ano tão fraco da categoria, por que não? 

A Paramount Pictures chega com dois importantes candidatos ao Oscar: de um lado “Babilônia”, do Damien Chazelle, queridinho da Academia após os sucessos de “Whiplash” e “La La Land”. A produção que fala sobre a transição do cinema mudo para o sonoro pode ser a responsável pela virada na temporada de premiações quando estrear, mas, até agora, está em segundo plano.  

Do outro lado, o estúdio conta com “Top Gun: Maverick”, fenômeno surpreendente de bilheteria e com o carisma de Tom Cruise para impulsioná-lo. Ambos devem levar a Paramount para a vitória em muitas categorias técnicas, deixando o estúdio com ótimas chances de ser o maior ganhador da noite em número de estatuetas. 

 MAU MOMENTO DOS STREAMINGS 

Da Apple, “Coda” foi o primeiro filme distribuído por um streaming a vencer o Oscar de Melhor Filme. O cenário para 2023, entretanto, não é nada animador para os estúdios da área. 

Para você ter uma ideia, a maior chance de vitória do streaming em 2023 até o momento é com “Argentina, 1985”, da Amazon, em Filme Internacional. Ainda assim, a obra com o Ricardo Darín passa longe de ser favorita. “13 Vidas” e “My Policeman”, outras apostas do estúdio, estão bem longe de qualquer chance.  

A Apple viu ” The Greatest Beer Run Ever” não convencer ninguém, “Cha Cha Real Smooth” não se tornar o novo “Coda” e a animação “Luck” passar longe do sucesso. A esperança que resta é com “Causeway”, parceria dela com o A24.  

Pior mesmo foi a Netflix: apostou tudo em “Bardo” e “Ruído Branco”, respectivamente, de Alejandro González Iñarritu e Noah Baumbach. O planejamento foi por água abaixo após as duas obras ficarem muito abaixo do esperado nos festivais de setembro.

“Blonde” até nem foi mal com a Ana de Armas sendo bastante elogiada, mas, as recentes declarações, no mínimo, polêmicas do Andrew Dominik, complicaram demais as chances do longa sobre a Marylin Monroe.  

Sobrou, então, para “Glass Onion”, terceiro lugar em Toronto, carregar as chances do streaming junto com “Pinóquio”, do Guillermo Del Toro. O mexicano, porém, terá mais chances mesmo em Melhor Animação. Na categoria, há também “Apollo 10 ½“, o que pode permitir um domínio inesperado da Netflix em território da Disney/Pixar.   

Por fim, vale observar com atenção o elogiado drama de guerra alemão “Sem Novidade no Front”, nova versão do clássico ganhador de Melhor Filme na terceira cerimônia do Oscar. Um candidato sério para Melhor Filme Internacional. 

OS ESTÚDIOS DOS FAVORITOS 

Chegamos aos estúdios com os favoritos a Melhor Filme do Oscar 2023. Dois deles possuem candidatos tão fortes que podem eclipsar totalmente os outros longas. 

A Universal Pictures enfrenta este dilema com “Os Fabelmans”: consagrada em Toronto e com toda a expectativa pela nova vitória do Steven Spielberg na Academia, a produção aparece, neste momento, como a grande favorita a Melhor Filme e Direção.

Neste cenário, “She Said”, drama jornalístico sobre os bastidores das reportagens devastadoras contra Harvey Weinstein, fica em segundo plano total. O que, cá entre nós, para muita gente da indústria é bastante confortável. 

 Ambulância”, do Michael Bay, “Jurassic World: Domínio” e “Não, Não Olhe” são opções viáveis da Universal mirando as áreas técnicas. 

A MGM/United Artists também deve colocar todo o foco em “Women Talking”: o drama feminista da Sarah Polley chega forte para Filme, Direção, atuações femininas e Roteiro Adaptado, sendo, aliás, o favorito absoluto neste último.

Desta forma, “Bones and All”, mesmo com dois prêmios em Veneza, pode ser deixado de lado até mesmo por ser uma obra de pegada menos convencional.  

A Searchlight Pictures pode fazer jogo duplo na temporada de premiações.  

Isso porque o estúdio traz “The Banshees of Inishiren”, mais elogiado dos filmes dos festivais de setembro e ganhador de dois prêmios em Veneza, e também “Empire of Light” com dois queridos da Academia.

Tradicionalmente, a Searchlight priorizaria o longa do Sam Mendes com a Olivia Colman pelo caráter nostálgico, a ligação com o cinema e ser um drama, porém, o filme do Martin McDonagh chega tão forte que a preferência será dele até apostando em uma vitória em Roteiro Original e ainda na possibilidade do Colin Farrell ganhar em Ator principal.  

Este cenário de polarização tende a deixar de lado “Boa Sorte Leo Grande” e, com isso, diminuir as possibilidades de vermos a Emma Thompson indicada. Entre ela e a Colman, acho que a Searchlight ficará com a estrela de “Empire of Light”.