De “Nascido em Quatro de Julho” a “Nada de Novo no Front”, Caio Pimenta traz uma lista dos maiores rivais dos ganhadores do Oscar de Melhor Filme nas décadas de 90, 2000, 2010 a atual.

ANOS 1990

“Conduzindo Miss Daisy” ganhou a contestada edição de 1990 em que o Melhor Filme de fato ficou de fora dos indicados; estou falando, claro, de “Faça a Coisa Certa”. Entre os nomeados, vejo “Nascido em Quatro de Julho” como o rival que mais ameaçou. Afinal, o Oliver Stone venceu Melhor Direção e a produção ganhou o Globo de Ouro. Porém, a vitória de “Platoon” três anos antes pode ter a Academia não querer repetir a dose. 

Já em 1991, o Kevin Costner dominou a temporada de premiações com “Dança com Lobos”. Como “Poderoso Chefão 3” não correspondeu às expectativas, o maior rival do épico se tornou o clássico “Os Bons Companheiros”, porém, o Martin Scorsese ainda não tinha caído nas graças do Oscar. 

Hannibal Lecter e Clarice Sterling levaram a Academia a premiar o improvável “O Silêncio dos Inocentes”. Com mais cara de Oscar, “Bugsy” seria um prêmio mais cômodo. Vale lembrar que o drama do Warren Beatty venceu o Globo de Ouro sobre o suspense do Jonathan Demme. 

Os Imperdoáveis” rendeu o primeiro Oscar da carreira do Clint Eastwood. Além do western, dois filmes fizeram boa temporada de premiações: “Traídos Pelo Desejo” levou o Sindicato dos Produtores, enquanto “Perfume de Mulher” ficou com o Globo de Ouro, superando os seus principais rivais. Neste duelo pesado pelo segundo lugar, acho que o suspense com o Stephen Frears ficou mais próximo da conquista. 

Pulp Fiction: Tempo de Violência, de Quentin Tarantino

Há temporadas em que um filme é tão dominante que os outros candidatos são relegados a coadjuvante. Foi o que ocorreu em 1994 com “A Lista de Schindler”. Não fosse o drama sobre o Holocausto do Steven Spielberg, “O Piano” poderia ter feito a Jane Campion ter sido a primeira mulher a ganhar as categorias de Direção e Filme. 

Também ganhador da Palma de Ouro, “Pulp Fiction” seria o filme perfeito para o Oscar consagrar o forte cinema independente norte-americano da década de 1990. Faltou combinar com “Forrest Gump”, drama comovente com o ator do momento e efeitos visuais inovadores para a época. Receita impossível de resistir para a Academia.  

Já em 1996 aconteceu algo totalmente improvável para os dias atuais: “Apollo 13” levou o SAG, PGA e o DGA. As indicações ao Oscar, porém, derrubaram o drama com o Tom Hanks quando a produção ficou de fora de direção com o Ron Howard. Neste meio tempo, “Coração Valente” cresceu com a força do maior astro do momento, o Mel Gibson. Para piorar, “Razão e Sensibilidade” subiu consideravelmente e foi o que mais ameaçou o épico da Paramount. 

No ano seguinte, “O Paciente Inglês” dominou a temporada com o Harvey Weinstein mostrando toda a sua artilharia. “Fargo”, dos Coen, era o filme com mais possibilidade de tentar até pela força da Frances McDormand e dos próprios irmãos vencedores de Roteiro Original. 

Titanic” atropelou tudo e todos em 1998. A vitória do épico do James Cameron foi para lá de justa, mas, deu pena de “Los Angeles – Cidade Proibida”, um noir de alto estilo, extremamente elogiado e que poderia ter feito a Academia reviver os anos 1940 e 1950. 

Ganhador do PGA, DGA e de Melhor Direção com o Spielberg, “O Resgate do Soldado Ryan” foi o vencedor moral de 1999 por conta da absurda conquista de “Shakespeare Apaixonado”.

ANOS 2000

Igual “Titanic”, “Beleza Americana” não deu chances para os concorrentes em 2000. Dos outros quatro candidatos, “O Informante”, do Michael Mann, foi quem mais tentou ameaçar, mas, não fez nem cócegas. 

A temporada de 2001 foi meio estranha: “Gladiador” era um sucesso de público, trazia os épicos clássicos para o novo século e tinha um investimento gigantesco da Dreamworks. Ainda assim, “Traffic” levou o SAG e o Steven Soderbergh bateu o Ridley Scott em Melhor Direção. Porém, o tema pesado pode ter feito muitos votantes optarem pela aventura com o Russell Crowe. 

Já “Uma Mente Brilhante” se tornou o candidato mais seguro para a Academia no ano seguinte. Até porque a opção mais forte ia na contramão, no caso, “Moulin Rouge”, um musical extravagante de montagem remetendo à velocidade de um videoclipe. Talvez hoje em dia, o Baz Luhrmann tivesse um pouco mais de sorte. Vale lembrar que o filme ganhou o PGA. 

o pianista filmes sobre racismo questão racial

Dá para dizer que a edição 2003 foi definida no VAR: “O Pianista” ganhou Roteiro Adaptado, Ator e Direção, mas, viu Melhor Filme escapar nos últimos segundos para “Chicago”. No ano seguinte, bem, ali “O Retorno do Rei” passou o trator impiedosamente. Pelo perfil dos vencedores ao longo da história, “Sobre Meninos e Lobos” pode sido o primeiro dos últimos. 

Aqui no canal, eu já falei sobre a disputa de 2005 entre “Menina de Ouro” e o seu grande concorrente, “O Aviador”. Tô deixando o link aqui.O Segredo de Brokeback Mountain” tinha tudo para vencer no Oscar 2006 – levou o DGA e o PGA, além do Ang Lee ter vencido Melhor Direção.

Infelizmente, a Academia optou por “Crash”, um dos seus maiores erros dos últimos anos.

“Pequena Miss Sunshine” surpreendeu em 2007 ao levar o PGA e o SAG, porém, sucumbiu diante da necessidade do Scorsese vencer por “Os Infiltrados”. 

“Onde os Fracos não têm Vez” pode ter feito barba, cabelo e bigode, mas, “Sangue Negro” foi um bom rival em 2008. No ano seguinte, “O Curioso Caso de Benjamin Button” ficou atrás de “Quem Quer se um Milionário?” ainda que o drama do David Fincher tenha caído ao longo de toda a temporada.

ANOS 2010

Já o primeiro “Avatar” aproveitou todo o fenômeno de bilheteria para crescer na temporada, mas, “Guerra ao Terror” fez história ao consagrar a Kathryn Bigelow. 

Em 2011 e 2012, os duelos foram pesados: “O Discurso do Rei” contra “A Rede Social” e “O Artista” versus “Hugo Cabret”. Vitórias dos filmes mais fracos. Apesar do Ben Affleck esnobado, “Argo” levou o SAG, DGA e o PGA antes de ganhar Melhor Filme. Naquela temporada, “Lincoln” chegou com forte para ser o principal rival, porém, “As Aventuras de Pi” cresceu bastante na reta final a ponto do Ang Lee ter ganhado Melhor Direção. 

Gravidade” ganhou o DGA, empatou no PGA e levou 7 Oscars, mas, uma ficção científica levar a categoria máxima? Mais fácil mesmo ficar com “12 Anos de Escravidão”. “Boyhood” perdeu tanta força no duelo com “Birdman” que acredito ter sido ultrapassado por “O Grande Hotel Budapeste”. Já “Spotlight” superou uma pesada concorrência, incluindo, “O Regresso”, badalado após levar o DGA, render a primeira estatueta da carreira do Leonardo DiCaprio e ainda o segundo Oscar do Alejandro González Iñarritu. 

Em 2017, não tem como ser diferente: “La La Land” era o favorito e acabou sendo surpreendido por “Moonlight”. Já “Três Anúncios Para um Crime” até conquistou o SAG e o Bafta, mas, no fim, deu mesmo “A Forma da Água”. A derrota de “Roma”, afinal, “Green Book”, outro erro grosseiro do Oscar, acabou levando Melhor Filme. 

No ano seguinte, a Academia se redimiu: “Parasita” ganhou de toda a técnica de “1917”, do Sam Mendes. No Oscar da pandemia, “Nomadland” trucidou todos os candidatos. Com “Mank” em queda livre, acredito que “Meu Pai” acabou sendo a maior ameaça ao domínio do drama da Chloé Zhao.

Em 2022, ainda atormenta a vitória de “Coda” sobre “Ataque dos Cães”.

Por fim, “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo”  sobrou neste ano, porém, o desempenho de “Nada de Novo no Front” no Bafta e o crescimento do drama de guerra alemão provocaram um ligeiro no favoritismo da sci-fi da A24.