Caio Pimenta analisa quais os favoritos e os azarões rumo ao Oscar 2023 de Melhor Roteiro Adaptado e Original.

ROTEIRO ORIGINAL

Eu costumo fazer os vídeos sempre começando com a turma dos que tem menos chances até chegar nos favoritos. Porém, em roteiro original, quatro vagas são mais do que certas. 

“TÁR” é a grande oportunidade da Academia premiar o Todd Field. Sem grandes chances em Melhor Direção, categoria que deve ser dominada pelo Steven Spielberg, a vitória pode vir aqui. Com uma filmografia de apenas três e elogiados longas, o Field traz uma das produções mais elogiadas do ano com uma temática pertinente sobre a cultura de cancelamento. É um dos favoritos, sem dúvida. 

“Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo” é o filme mais criativo entre as grandes produções e caiu no gosto popular. A história completamente louca traz pitadas de ficção científica e drama familiar com muitas referências à cultura pop e criando um universo para ser expandido em futuras produções. Deve ser reconhecido, pelo menos, com a indicação. 

Se a temporada for mesmo do Steven Spielberg como tende a ser, o diretor será nomeado pela primeira vez na categoria por “Os Fabelmans”. A produção seria a terceira indicação do Tony Kusher ao Oscar, todas em parcerias com o mestre de Hollywood – as primeiras foram com “Munique” e “Lincoln”.  

Completa os candidatos com vagas garantidas, “The Banshees of Inisherin”. O Martin McDonagh bateu na trave de levar a categoria por “Três Anúncios Para um Crime”. Agora, ele deve retornar credenciado pela vitória em Melhor Roteiro no Festival de Veneza.  

Na minha visão, o prêmio deve ficar entre “TÁR” e “Inisherin” até por ser uma forma de recompensar o McDonagh ou o Field que não irão levar Melhor Direção. Agora, se a Academia quiser consagrar totalmente o Spielberg, pode dar “Os Fabelmans”. Já os Daniels somente vencerão se “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo” chegar com um hype lá no alto. É possível, mas, não aposto tanto assim. 

Sobrou uma vaga e o mistério é quem fica com ela. A princípio, uma produção surge como a favorita para o posto. 

“Babilônia” pode levar o Damien Chazelle a ser nomeado pela terceira vez como roteirista após “Whiplash” e La La Land. Pelo mostrado no trailer e o que se sabe da história, há um quê de “O Grande Gatsby”, de F. Scott Fitzgerald, no longa e a ambientação do filme ser a transição do cinema mudo para o sonoro sempre mexe com a Academia. Se cair nas graças da crítica e do público, certamente estará entre os cinco finalistas. 

Agora, se “Babilônia” vacilar, tem uma turma louquinha pela vaga. E com muita gente boa. 

O mais forte de todos é “O Triângulo da Tristeza”. Com duas Palmas de Ouro para chamar de sua, o Ruben Östlund, agora, tenta conquistar o Oscar. Se a vaga em Melhor Direção parece um pouco distante, a oportunidade maior pode ser aqui. Afinal, os roteiristas costumam sempre dar espaço para obras menos conhecidas ou resgatar um filme pouco valorizados na categoria de Melhor Filme. O estilo anárquico e irônico do Östlund, entretanto, pode jogar contra ele. 

Sem jamais ter sido indicado ao Oscar, o James Gray pode ganhar dos roteiristas um aceno com uma nomeação por “Armageddon Time”. Ser baseado em vivências do próprio cineasta contribui para um olhar mais atento da Academia para com o filme. Também pode entrar na lista como uma menção honrosa a produções que não terão maiores chances nas categorias principais. 

Com a presença da Maria Bello entre as roteiristas, “A Mulher Rei” pode ser uma surpresa. A ambientação histórica e o simbolismo de ser uma história protagonizada por mulheres negras multifacetadas pode compensar a simplicidade da trama. Já “Aftersun” vem crescendo nas últimas semanas e com chances de pintar de última hora. “Till” completa o segundo pelotão com uma história das mais trágicas do racismo nos EUA. 

O pelotão internacional de 2023 busca repetir os feitos de “Fale com Ela”, “Roma” e “A Pior Pessoa do Mundo”. Entre as possibilidades estão o belga “Close”, o dinamarquês “Holy Spider”, os sul-coreanos “Decisão de Partir” e “Broker”. Para mim, o drama do Lukas Dhont é que possui melhores chances de surpreender. 

“Elvis”, “Emancipation”, “I Wanna Dance With Somebody”, “Saint Omer”, “Bardo” e “Império da Luz” são possibilidades para lá de remotas. Será preciso uma reviravolta imensa para que sejam indicados. 

ROTEIRO ADAPTADO 

Se Roteiro Original a corrida está bem definida, entre os adaptados, a história é bem diferente. Dá para afirmar que uma produção não apenas está garantida como será a favorita para levar a estatueta. 

Claro que estou falando de “Women Talking”. Igual o Martin McDonagh e o Todd Field, dificilmente, a Sarah Polley tira o Oscar de Direção do Spielberg. Logo, Roteiro Adaptado é a maior possibilidade de vitória dela, uma das mulheres mais prestigiadas da indústria atualmente. O longa baseado no romance da Miriam Toews traz toda a questão de feminismo e sororidade, assuntos em voga na Academia, e com um grande gama de personagens. Deve levar o prêmio fácil. 

Acredito que outras duas vagas estão encaminhadas para “She Said” e “The Whale”. O drama jornalístico sobre as reportagens contra o Harvey Weinstein tem o peso histórico do tema e carrega um manual de filmes do gênero que já consagrou, por exemplo, “Spotlight” com uma estatueta de Melhor Roteiro Original.  

Já o drama do Darren Aronofsky deve render a primeira indicação do Samuel D. Hunter. Aqui, acredito que as atuações do Brendan Fraser e da Hong Chau deve alavancar a produção a ter mais nomeações do que mereceria, sendo aqui uma delas.  

Restam duas vagas e o jogo fica embolado. 

O drama britânico “Living” traz como predicados ser uma adaptação de “Viver”, um clássico do Akira Kurosawa, e adaptado pelo ganhador do Nobel de Literatura, Kazuo Ishiguro. Isso deve ser suficiente para garantir uma das vagas. Já “Glass Onion” pode ser a segunda indicação do Rian Johnson ao Oscar pela franquia. Porém, será que os roteiristas irão querer prestigiar novamente “Entre Facas e Segredos” ou optar por alguma novidade? 

A estranheza que afasta “Bones & All” de Melhor Filme pode cair no gosto dos roteiristas. Afinal, as categorias de roteiro sempre trazem filmes fora do radar como aconteceu com “O Tigre Branco”, “A Balada de Buster Scruggs” e “Logan”. 

O segundo pelotão é formado por filmes que podem surpreender e obter uma nomeação inesperada como são os casos de “Pinóquio”, a nova adaptação comandada pelo Guillermo Del Toro, o drama de guerra “Nada de Novo no Front”, e “Ruído Branco”, do Noah Baumbach. 

Não podemos esquecer das possibilidades dos blockbusters: “Top Gun: Maverick” fez o feijão com arroz mais certinho dos últimos tempos caprichando bem na nostalgia sem esquecer de olhar para frente. Já “Wakanda Forever” e “Avatar: O Caminho da Água” são cercados de expectativas que, caso correspondam, chegarão fortes para a temporada. 

Para quem está sentindo falta de “The Son”, sinto dizer que o Florian Zeller não deve repetir o feito de “Meu Pai”. A tendência é que fique de fora mesmo, enquanto “Spoiler Alert” e “Um Homem Chamado Otto” são improváveis, pelo menos, neste momento.