Caio Pimenta analisa como ficou a corrida rumo ao Oscar após as vitórias de “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo” no SAG e PGA 2023.

MELHOR ANIMAÇÃO, DOCUMENTÁRIO E FILME INTERNACIONAL 

O Guillermo Del Toro dará o primeiro Oscar de Melhor Animação para a Netflix. “Pinóquio” venceu o Globo de Ouro, Bafta, PGA e o Annie Awards, o maior evento do setor nos EUA. É o mesmo cenário traçado “Soul”, “Aranhaverso”, “Viva” e “Divertida Mente”, vencedores recentes na Academia. Não há Disney ou Pixar que possam mudar este cenário. 

Em documentário, “Navalny” chega forte após vencer o Bafta e o Sindicato dos Produtores. Foram as mesmas conquistas alcançadas por “Summer of Soul no ano passado. O evento britânico ainda consagrou “Professor Polvo” dois anos atrás. A produção da HBO conta com a narrativa de ser um recado da Academia contra Vladimir Putin e a invasão na Ucrânia. O resultado só não está completamente fechado, pois, há “Fire of Love”, vencedor do DGA da categoria. 

Em Melhor Filme Internacional, não há qualquer outra possibilidade que não seja “Nada de Novo no Front”. O longa alemão venceu o Bafta da categoria e outros seis prêmios, incluindo, Melhor Filme. Nem mesmo o Globo de Ouro para “Argentina, 1985” será capaz de mudar o rumo da conversa até o dia 12 de março. 

MELHORES COADJUVANTES 

Em Melhor Ator Coadjuvante, a vitória do Barry Keoghan no Bafta deixou os afobados crentes de que uma virada estava começando a acontecer. O SAG, entretanto, colocou tudo de volta nos trilhos com o Ke Huy Quan vencendo o prêmio da categoria. 

Levando em consideração as últimas temporadas, o Ke Huy Quan repete o retrospecto do Troy Kotsur no ano passado que levou três dos precursores do Oscar – no caso, SAG, Bafta e Critics. Neste ano, o astro de “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo” já conquistou o Critics e o Globo de Ouro, além do SAG. Praticamente impossível não faturar o Oscar. 

Já em Atriz Coadjuvante… O caos e o aleatório irão reinar até o anúncio do dia 12 de março. 

A Angela Bassett começou liderando a corrida ao ganhar o Globo de Ouro e Critics. Ao ir para os eventos que envolvem os votantes da Academia, a estrela de “Wakanda Forever” simplesmente parou de vencer. Os britânicos ficaram com a Kerry Condon, de “Os Banshees de Inisherin”, enquanto o SAG foi para a Jamie Lee Curtis, por “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo”.  

Nos últimos anos, conquistou o Oscar quem venceu, pelo menos, dois precursores – foram os casos de Youn Yun-Jung, por “Minari”, e Alicia Vikander, de “A Garota Dinamarquesa”. Seria um bom sinal para a Bassett, porém, as duas citadas ganharam o SAG. Pesa muito “Wakanda Forever” estar fora de Melhor Filme, logo, perdendo a visibilidade. 

Hoje, o momento hoje é nítido de “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo”. A Jamie Lee Curtis está fazendo uma carreira forte nas redes sociais e há um carinho histórico na indústria por ela. Isso conta a favor, mas, não duvide das possibilidades da Stephanie Hsu. 

E por que não acreditar ainda na Kerry Condon e Hong Chau? As duas podem se aproveitar de uma possível divisão entre a Curtis e Hsu. Há muitas possibilidades, mas, hoje, o favoritismo pequeno para a Jamie Lee Curtis. 

MELHORES ATUAÇÕES PRINCIPAIS 

A Michelle Yeoh deu um passo importante para a vitória no Oscar ao conquistar o SAG de Melhor Atriz. Ela já havia vencido o Globo de Ouro em comédia/musical, mas, sofreu duas derrotas – a primeira no Critics Choice e, em seguida, no Bafta. 

Nos últimos anos, o SAG coincidiu com o Oscar nas edições da Jessica Chastain, Renée Zellweger e Frances McDormand, por “Três Anúncios Para um Crime”. Porém, em corridas mais apertadas como das vitórias de Olivia Colman e McDormand, por “Nomadland”, o Bafta previu de forma certeira. 

Aqui, a Yeoh dependerá do embalo de “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo”: se a Academia seguir o SAG, ela vence. Agora, caso o Oscar resolver distribuir os prêmios, a Cate Blanchett chegará à terceira estatueta. 

Hoje, a Yeoh está na frente.  

Em Melhor Ator, o Brendan Fraser se recuperou com o SAG após ter perdido para o Austin Butler no Bafta.

Aqui, o astro de “A Baleia” pode jogar com o histórico: exceto pelo Anthony Hopkins na estranha corrida de 2021, todos que venceram o Sindicato dos Atores ganharam a estatueta dourada nos últimos anos desde o Gary Oldman, por “O Destino de uma Nação”. 

O combo perfeito – transformação visual e retomada da carreira de um ator querido – torna o Brendan Fraser o candidato ideal. A única coisa que pode pesar é “A Baleia” não estar em Melhor Filme: a última vez que aconteceu algo do tipo foi com o Jeff Bridges, por “Coração Louco”, lá em 2010.  

Difícil este Oscar não parar nas mãos do Brendan Fraser. 

MELHOR DIREÇÃO

Seria muito legal um mistério até a noite do dia 12, mas, vou enganar quem? Os Daniels caminham com tranquilidade para levar Melhor Direção. 

O Steven Spielberg começou bem a temporada com a vitória no Globo de Ouro, mas, parou por aí. Os Daniels levaram o Critics e o DGA.

Nem mesmo a derrota para o Edward Berger no Bafta foi um problema, visto que o alemão não foi nomeado para o Oscar de Direção.  

Comparado aos últimos anos de Jane Campion, Chloé Zhao, Alfonso Cuáron e Guillermo Del Toro, a vitória dos Daniels será menos contundente, ainda que seja com mais folga comparado ao Bong Joon-Ho no duelo com o Sam Mendes.

A dupla será beneficiada por esta onda avassaladora favorável a “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo”. 

MELHOR FILME 

E chegamos à categoria em que, se havia dúvidas, o SAG resolveu acabar totalmente com elas. 

“Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo” passou por cima dos demais concorrentes ao vencer três das quatro categorias de atuação principal, um recorde. A conquista em Melhor Elenco coroou a noite perfeita. Com isso, a ficção científica dos Daniels ganhou o impulso definitivo para o dia 12 de março. 

Essa vitória se soma ao PGA, o prêmio do Sindicato dos Produtores: nos últimos anos, somente “Parasita”, “Moonlight” e “Spotlight” não ganharam os dois eventos. A tendência é que a artilharia dos hates nas redes sociais e dos estúdios rivais da A24, porém, o mistério que fica é quem será o rival para destroná-lo? 

“Os Fabelmans” perdeu força total; ganhou apenas o Globo de Ouro de Drama e mais nada. Já “Os Banshees de Inisherin tropeçou em casa no Bafta, o que praticamente o tirou da corrida. “Nada de Novo no Front” é hoje quem mais ameaça pela vitória maiúscula no evento britânico e pelo favoritismo em Roteiro Adaptado. Mas, será que as alas internacional e britânica serão suficientes para derrubar a ficção científica?  

Sinceramente, não creio em uma virada nesta altura do campeonato igual “Moonlight” para cima de “La La Land”. O Oscar já é de “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo”.