Da Netflix até a A24, Caio Pimenta analisa quais são os candidatos e as estratégias de cada estúdio mirando o Oscar 2024.

NETFLIX

A Netflix viu a Apple se tornar o primeiro streaming a ganhar Melhor Filme após anos de frustração. E 2024 não parece muito animador para o estúdio vencer a categoria máxima. 

“Maestro” é a principal aposta da empresa. Após a passagem por Veneza, o longa ficou para trás na corrida contra “Pobres Criaturas”, “Oppenheimer” e “Assassinos da Lua das Flores”. Ainda assim, deve ter espaço entre os 10 finalistas, mas, sem aparecer em Direção. “Segredos de um Escândalo”, do Todd Haynes, também está na briga por esta vaga, mas, hoje, corre bem por fora. 

Restará o foco da Netflix nas categorias de atuação. Para além do Bradley Cooper, o estúdio terá ainda o Colman Domingo, por “Rustin”, em Melhor Ator. Pelo prestígio na indústria e a longa série de indicações sem êxito, o astro de “Maestro” sai na frente na disputa interna. 

Mesmo cenário da Carey Mulligan com a Annette Bening. Por mais que a estrela de “Nyad” seja uma das grandes veteranas ainda sem Oscar, o filme não ajuda tanto assim. Desta forma, a estrela britânica se beneficia com a força de “Maestro”. Neste embate, quem dança é a Natalie Portman, hoje, em terceiro lugar nas prioridades da Netflix na categoria. 

Caso a Netflix queira forçar a barra e fortalecer o longa do Bradley Cooper com alguma conquista certeira nas categorias principais, a opção de colocar a Carey Mulligan em coadjuvante está no radar. Isso atrapalharia a Jodie Foster e Julianne Moore na busca por indicações, neste momento, ainda não garantidas. 

“Maestro” e “Segredos de um Escândalo” podem aparecer em roteiro original. Pode emplacar os dois filmes na categoria, mas, o Bradley Cooper segue na dianteira. A Netflix ainda pode contar com fortes candidatos em categorias importantes. 

O espanhol “A Sociedade da Neve” busca emplacar em Filme Internacional. O cofre sem fundo do streaming pode ser fundamental para uma corrida que promete ser embolada por, pelo menos, duas vagas. Em Documentário, a Netflix conta com “American Symphony”, obra sobre o músico Jon Batiste e aclamada em Telluride. E ainda tem “Fuga das Galinhas 2” e “Nimona” para, pelo menos, retornar à categoria em que venceu ano passado. 

Se você ficou atento, infelizmente, “O Assassino”, do David Fincher, tem tudo para ser esquecido no rolê assim como “O Mundo Depois de Nós” com Julia Roberts, Ethan Hawke e Mahershala Ali. 

APPLE

Falando de streaming, a Apple quer e pode repetir o sucesso da temporada 2022 quando surpreendeu com a vitória de “Coda”. 

Nas mãos, o estúdio em parceria com a Paramount Pictures tem ‘apenas’ “Assassinos da Lua das Flores”: a produção chega favorita a Melhor Filme, Direção com o Martin Scorsese e Roteiro Adaptado, além de diversas categorias técnicas e ainda boas chances em Atriz e Ator Coadjuvante. Interessante, porém, será saber como ocorrerá se “Napoleão” sair bem junto à crítica e ao público. 

O épico da Apple em parceria com a Sony Pictures passou ao largo dos grandes eventos do segundo semestre e desembarca nos cinemas em novembro. Se entrar no páreo forte, pode provocar embates interessantes em Direção entre o Scorsese e Ridley Scott e em Melhor Ator do Leonardo DiCaprio e Joaquin Phoenix. 

Ainda assim, considero “Assassinos” tranquilo em um possível choque contra “Napoleão”. Já a Helen Mirren com “Golda” em Melhor Atriz parece um sonho impossível para a Apple. 

UNIVERSAL E SONY PICTURES

A Universal Pictures não terá dilema alguma: “Oppenheimer” é o foco único nesta temporada de premiações. Para você ter uma ideia, os outros filmes do estúdio são “O Urso do Pó Branco” e “Velozes e Furiosos 10”. Desta forma, o Christopher Nolan terá grana e equipe em peso para fazer o corpo a corpo junto aos votantes. 

Já a Sony, além de “Napoleão”, irá com tudo em Melhor Animação para vencer com “Homem-Aranha Através do Aranhaverso”. O estúdio ainda vê “Dinheiro Fácil” praticamente sem chances de qualquer indicação. 

SEARCHLIGHT PICTURES

Estúdio mais vencedor dos últimos anos, a Searchlight Pictures joga as fichas em “Pobres Criaturas”. A vitória em Veneza igual ocorreu com “A Forma da Água“, “Roma“, Coringa e “Nomadland” colocou a produção do Yorgos Lanthimos em status de favorito a Melhor Filme e Direção. Como a vaga do Lanthimos é mais do que certa, abre espaço para o estúdio focar em “All of us Strangers” na categoria máxima. 

Para ambos os filmes, a Searchlight Pictures terá missões importantes nos prêmios de atuações: em Melhor Atriz, o estúdio precisa sustentar o favoritismo de Emma Stone em meio ao discurso de representatividade trazido pela Lily Gladstone, enquanto a luta em Melhor Ator será colocar o Andrew Scott entre os finalistas. Já em ator coadjuvante, o Paul Mescal pode sofrer com concorrência interna do Willem Dafoe e Mark Ruffalo, entretanto, “All of Us Strangers” pode ser compensado com Claire Foy entre as mulheres. 

Quanto a “Quem Fizer Ganha”, o estúdio nem fará muito esforço, pois, o Taika Waititi está muito atrás na corrida.  

DISNEY e FOCUS FEATURES

A toda-poderosa Disney está tímida na atual temporada com chances apenas concretas em Melhor Animação com “Wish” e “Elementos” , ambos sem tantas possibilidades de vitória, e “A Pequena Sereia” e o último “Indiana Jones” lutando por algo em efeitos visuais ou maquiagem e penteado. E só. 

A prioridade da Focus Features será, sem dúvida, “Os Rejeitados”. Para as indicações, vejo o estúdio focado em emplacar o Alexander Payne em Direção, Paul Giamatti em Ator e o Dominic Sessa em Ator Coadjuvante. Todos os três terão dificuldades para conseguir, afinal, são categorias com muitos concorrentes. Já na premiação, o olho certamente será na Da´Vine Joy Randolph em Atriz Coadjuvante e Roteiro Original, prêmios em que o longa pode sim conquistar. 

“Asteroid City” será a oportunidade da Focus Features mostra que faz milagre, pois, é bem difícil vê-lo em Roteiro Original. As chances mesmo do Wes Anderson serão em áreas técnicas como figurino e design de produção. 

NEON E A24

Queridinhas do público, a Neon e A24 chegam fortes na temporada. 

A atual vencedora do Oscar traz “A Zona de Interesse” como principal aposta. Para além da vitória quase certa em Filme Internacional, o longa do Jonathan Glazer busca surpreender em Melhor Filme, Direção e Roteiro Adaptado, onde tem indicações praticamente asseguradas.  

O singelo “Vidas Passadas” tenta não sumir no meio dos gigantes. Para tanto, os trabalhos da A24 serão focados para chegar, pelo menos, a Melhor Filme. Mais difícil será a missão para Direção e Atriz com a Greta Lee. Já em Roteiro Original, dá para sonhar em vitória. 

“Priscilla” busca apenas ver a Caille Spaeney em Atriz e algo em figurino ou maquiagem e penteado. Por fim, a A24 pode fazer de “The Iron Claw” uma surpresa de última hora. Mas, não será demais para o estúdio? A conferir.    

A Neon tinha esperanças de que “Ferrari” fosse o carro-chefe do estúdio, mas, o longa do Michael Mann ficou para trás. O maior esforço tende mesmo a ser colocar a Penélope Cruz em coadjuvante. Hoje, o estúdio observa em “Origem”, da Ava DuVernay, e, principalmente, “Anatomia de uma Queda”, da Justine Triet e atual vencedor da Palma de Ouro, suas maiores oportunidades para Melhor Filme.  

O drama francês chega com mais credenciais até pelas possibilidades da Triet em Direção, Sandra Huller em Atriz principal e Roteiro Original. Por fim, ainda há “Perfect Days”, do Wim Wenders, para Neon buscar uma vaga entre os internacionais. 

AMAZON E MGM

A Amazon não deu muita sorte na temporada e o máximo que tenta no Oscar é com “Air – A História por Trás do Logo”. Para tanto, o estúdio precisa torcer para a greve dos atores acabar logo, o que permitiria o grande elenco de estrelas atuar de maneira firme na campanha. “Saltburn” tende a ficar fora tal qual “Cassandro” e a atuação do Gael Garcia Bernal. 

Já a MGM, hoje, braço da Amazon, se não olha com muito entusiasmo para “The Boys in the Boat”, novo filme do George Clooney, enxerga no vencedor do Festival de Toronto seu maior trunfo na temporada. 

“American Fiction” surgiu na disputa forte e está garantido, pelo menos, em Melhor Filme e quase lá em Roteiro Adaptado. O maior desafio mesmo é o Jeffrey Wright em Melhor Ator: apesar de extremamente elogiado, a concorrência pesada o coloca em risco. Será uma briga ferrenha contra o Paul Giamatti e Colman Domingo. 

WARNER BROS

Chegamos, então, à Warner Bros que adiou “Duna 2”, o maior trunfo do estúdio. Mesmo assim, o estúdio chega com dois potenciais candidatos. 

A narrativa feminista e de “Barbie” ser a maior bilheteria do ano serão ativos utilizados pela Warner na campanha. Se Melhor Filme parece uma nomeação garantida, hoje, o estúdio encara um cenário complicado para Margot Robbie em Atriz Principal. Por outro lado, Ryan Gosling como coadjuvante e Roteiro Original com Noah Baumbach e Greta Gerwig são possibilidades de vitória. 

“A Cor Púrpura” busca o mesmo efeito de 1917 em 2020: o drama de guerra do Sam Mendes pulou os festivais e chegou forte na temporada travando duelo ferrenho com “Parasita”. O musical do Blitz Bazawule pode ganhar prioridade em cima de “Barbie” caso a Warner entenda que haja alguma chance de vitória, o que ainda parece longe de ser o caso. 

O estúdio ainda pode sonhar com muitas indicações nas áreas técnicas com “Wonka” e “Aquaman 2”.