No clássico livro “A Tônica da Descontinuidade: cinema e política em Manaus na década de 60” O saudoso professor da Universidade Federal do Amazonas, Narciso Lobo, afirmara que o cinema amazonense tivera duas fases até então: a primeira com Silvino Santos nos anos 1910 até o início da década de 1930, e com a geração cineclubista dos anos 1960.

Com toda a reverência que faço ao professor Narciso, acrescento o atual momento, iniciado com a formação da Amazonas Film Comission e do Núcleo de Polo Digital, em 2001, como a terceira fase do cinema amazonense. Do maior festival de cinema já visto no Estado passando pela presença de diversos curtas e longas locais em festivais brasileiros e internacionais até iniciativas de formação no setor, o audiovisual passa por grandes e inéditos avanços.

Porém, como afirmara Narciso, este processo do cinema local é marcado por descontinuidades e a década 2010 provou isso como você acompanha nesta retrospectiva feita pelo Cine Set.

ADEUS AMAZONAS FILM FESTIVAL 

Iniciado em 2004, o Amazonas Film Festival foi o maior evento de cinema realizado no Estado em toda sua história. Mesmo com o foco na vinda de grandes estrelas internacionais (Roman Polanski, Claudia Cardinale, Matt Dilon, Neve Campbell) e nacionais (Malu Mader, Maria Fernanda Cândido, Nelson Xavier, Carlos Manga), o AFF também acabou sendo uma porta de entrada para uma nova geração de realizadores.

Sérgio AndradeAldemar Matias, Rod Castro, Emerson Medina, Keila SerruyaMichelle AndrewsRafael RamosLeonardo ManciniDheik Praia exibiram seus primeiros curtas-metragens no evento, muitos deles, saindo vitoriosos. O Prêmio Banco Daycoval de Roteiro de Curta-Metragem 35 mm ainda dava uma oportunidade rara de financiamento para projetos locais.

Some-se isso a muito luxo, glamour, festas, tapete vermelho, exibições no icônico Teatro Amazonas, mídia nacional e internacional, cerimônia de premiação no Largo de São Sebastião, o AFF era quase um Festival de Cannes dos trópicos.

Porém, com a economia do Brasil e do Estado em frangalhos e a saída de importantes investidores, sustentar toda esta estrutura passou a ser inviável. A última edição, ocorrida em 2013, já mostrava uma redução no tamanho, indicando possíveis dificuldades para o ano seguinte, quando o Amazonas Film Festival completaria 10 anos. O aniversário de uma década, porém, ficou no papel após extensas negociações entre a classe artística e a Secretaria de Estado de Cultura (SEC), então comandada por Robério Braga, para tentar manter o AFF com uma linha mais voltada ao cinema latino e brasileiro.

Se foi responsável pelo estímulo ao surgimento de tanto novos nomes para o audiovisual local e promoveu experiências únicas para os seus participantes ao lado de grandes nomes do cinema, o AFF, por outro lado, não conseguiu envolver necessariamente a cidade, sem criar plateia para as produções locais e obras do circuito de arte. Já o que deveria ser o maior legado, infelizmente, ficou pelo caminho…

AUDIOVISUAL NA UEA: SONHO NO MEIO DO CAMINHO

Ter um festival de porte internacional sem possuir um único curso de graduação ou técnico de audiovisual era algo sem sentido. Após muitas cobranças da classe por medidas práticas de profissionalismo voltado à formação, Robério Braga anunciou a criação de um curso de cinema na Universidade do Estado do Amazonas (UEA) durante a abertura da 8a edição do Amazonas Film Festival, em 2012.

De cara, porém, o curso para bacharelado virou técnico e em caráter de oferta especial. A primeira turma começou em 2013, ano em que um choque na parceria entre a UEA e a SEC colocou quase tudo a perder. Mesmo assim, modernos equipamentos acabaram sendo comprados voltados para as atividades desenvolvidas para professores e alunos.

Em 2015, o projeto pedagógico do curso chegou a ser aprovado, aproximando a realização do bacharelado em Cinema e Audiovisual. Após a entrada da segunda turma, porém, a situação passou a desandar com professores enfrentando dificuldades para receber salários e constantes reclamações de alunos em relação a falta de planejamento e suporte da coordenação.

O curso técnico fechou as portas com a formação dos alunos da segunda turma ocorrida em 2018. Agora, luzes de sobrevida surgem timidamente na UEA. Além da universidade estadual, a Uninorte também chegou a ter uma especialização em criação, produção e direção em cinema

Através da Amacine, Zê Leão (também conhecido como Júnior Rodrigues) promoveu diversas oficinas de cinema ao longo da década. Nos últimos anos, o Centro Popular do AudiovisualCasarão de IdeiasMuseu AmazônicoColetivo DifusãoArtrupe Produções Artísticas e o próprio Cine Set também realizaram atividades de formação. O crítico mineiro Pablo Villaça e o diretor de fotografia Ivo Lopes Araújo foram alguns dos profissionais que também ministraram cursos de cinema em Manaus nesta década.

FESTIVAIS, MOSTRA, MERCADO: CINEMA NÃO PAROU 

Apesar da viuvez em relação ao Amazonas Film Festival persistir cinco anos após o fim do evento, iniciativas diversas existiram durante e após ao AFF. Promovido pelo Núcleo de Antropologia Visual da Universidade Federal do Amazonas (NAVI/Ufam), a Mostra Amazônica do Filme Etnográfico teve fundamental importância para o debate sobre o audiovisual feito na região e a forma como os homens e mulheres locais eram retratados nestas obras.

Ao todo, foram cinco edições, sendo a última delas realizada em 2011. Integrante da organização, o professor e pesquisador Gustavo Soranz prepara um livro para resgatar a história do evento com entrevistas raras feitas com os homenageados de cada Mostra: Jorge Bodanzky (2006), Vincent Carelli e Mari Corrêa (2007), Adrian Cowell e Vicente Rios (2009) e Aurélio Michiles (2011).

Frutos da portabilidade digital com câmeras e softwares de edição mais acessíveis em comparação a outras décadas, o Festival do Minuto e Curta 4, ambos promovidos por Zê Leão, fizeram sucesso no início da década. Ainda que com qualidade para lá de discutíveis, estas produções despertaram a curiosidade sobre o audiovisual e levaram cultura e entretenimento para regiões esquecidas pelo poder público. Falando nestes locais, o Cine Bodó levou cinema para as periferias em praças públicas, igrejas, quadras poliesportivas, ampliando ideias de acesso aos produtos culturais, assim como o Centro Popular do Audiovisual manteve atividades sempre voltadas para a capacidade de mobilização e transformação social trazida pela cultura.

Já a Mostra do Cinema Amazonense (extinta após duas edições) e o Festival Olhar do Norte (caminhando para a terceira edição em 2020) conseguiram preencher a lacuna do AFF de um espaço de exibição e debate para a produção local, sendo o evento da Artrupe mais estruturado para crescer nos próximos anos. O Unicine e o Pirarucurta foram iniciativas isoladas vindas das instituições de Ensino Superior, que podem e devem entrar mais de cabeça no audiovisual local.

Por fim, o mais importante de todos os eventos da década: o Matapi. O Mercado Audiovisual do Norte é fruto de uma nova e necessária fase do cinema local em que não basta mais ser apenas artista; é preciso sim ter também visão de negócio e estratégias capazes de conseguir se manter no setor para produzir sua arte e conseguir distribui-la da melhor maneira possível. Este tipo de conhecimento, adquirido através da experiência em rodadas de negócios, pitchings e constantes debates, pode permitir que o ciclo da descontinuidade histórica do cinema amazonense, finalmente, possa encontrar um fim.

NOVA GERAÇÃO DO CINEMA LOCAL 

A década de 2010 foi a mais prolífica do cinema no Amazonas. Sérgio Andrade foi o melhor exemplo disso. Após vencer dois prêmios no Festival de Brasília 2010 com o ótimo “Cachoeira”, o diretor conseguiu fazer três longas-metragens com produção local e filmados na região, algo até então inédito na história.

“A Floresta de Jonathas” circulou dezenas de países ao redor do planeta e tornou-se a primeira obra local a chegar aos cinemas nacionais em circuito comercial neste período; Antes o Tempo Não Acabava alcançou simplesmente à Mostra Panorama do Festival de Berlim. Com menor repercussão que os dois trabalhos anteriores, A Terra Negra dos Kawá permitiu a Sérgio trabalhar com atores nacionais do porte de Mariana Lima e Felipe Rocha.

Após dominar o Amazonas Film Festival com os curtas “A Profecia de Elizon” e “Parente”, Aldemar Matias partiu para Cuba para estudar na tradicional Escuela Internacional de Cine y Television (EICTV). Se o primeiro trabalho, “Anos de Luz”, marcou o tri do diretor no AFF, “When I Get Home” conquistou prêmios em Cambridge, enquanto “O Inimigo” saiu consagrado do DocumentaMadrid e em San Sebastián. Para fechar, com o longa de estreia “La Arrancada”, também chegou à Mostra Panorama de Berlim.

Aldemar e Sérgio são os nomes mais consolidados da atual cena de diretorxs do Amazonas, mas, não os únicos de destaque. Elen Linth, por exemplo, produziu o poético “Maria”, produção elogiada por crítica e público por onde passou; Rafael Ramos com o lisérgico Aquela Estrada e o melancólico/nostálgico Formas de Voltar Para Casa demonstra a versatilidade de um realizador sempre disposto a experimentar cada vez mais; Leonardo Mancini e sua veia pop trouxe o divertido “Morto-Vivo” e a animação, feito raro no cenário local, A Última Balada de El ManchezRicardo Manjaro tem a habilidade de imprimir atmosferas únicas em seus projetos como A Última no Tambor”, “O Necromante” e “Obeso MórbidoAnderson Mendes e a capacidade de contar com humanidade tocante histórias como “A História de Coti: O Rambo do São Jorge” e “Picolé do Aranha”; Keila Serruya com seu ativismo potente de obras como “ASSIM”Francis Madsondono dos filmes mais intrigantes da década no cinema amazonense, em especial, “Jardim de Percevejos”; Flávia Abtibol com uma transição bem-sucedida dos filmes de ficção para os documentários como mostrou em Dom Kimura e no recente O Céu dos Índios; e Christiane Garcia, realizadora prestes a lançar o longa “Enquanto o Céu Não me Espera”. 

Há aqueles com potencial para alçar voos ainda maiores na próxima década como Diego Bauer (“Obeso Mórbido”), Welder Alves Pedroso (Amazônia Legal), Bernardo Abinader (O Barco e o Rio), Augustto Gomes (Zana), Romulo Souza (Vila Conde), Thiago Morais (A Estranha Velha que Enforcava Cachorros), Lucas Martins (Barulhos), Henrique Saunier (“No Controle”), Matheus Mota (Folhas Brancas), Jimmy Christian (Bodó com Farinha), Max Michel (O Compromisso), Lucas Simões (O Gato). Isso, claro, ficando apenas em nomes que assinam a direção, afinal, há diversos outros talentos nos mais variados setores do audiovisual – Yure César, César Nogueira, Valentina Ricardo, Francisco Ricardo e muito, muito mais.

Por fim, seria tão bom poder ver novos filmes de realizadores como Rod Castro, Moacyr Massulo, Emerson Medina e Antônio Carlos Júnior, integrantes da Planos em Sequência, e também de Dheik Praia (“Pranto Lunar”) e Zê Leão. Ah, claro que não poderia deixar de citar Aurélio Michiles e a bela homenagem a Cosme Alves Netto e ao cinema com o documentário “Tudo por Amor ao Cinema”.

‘EU ANDO PELO MUNDO…’ 

Dados da Ancine apontam que o Amazonas é o terceiro estado mais procurado do Brasil para produções audiovisuais, atrás apenas de Rio de Janeiro e São Paulo. Nada mais natural devido ao interesse do mundo em relação à Amazônia e a diversidade ecológica da região. Mesmo carregados de exotismos, produções internacionais são frequentemente vistas no Estado, entre elas, americanas, britânicas e até indianas. Surfando na onda da febre 3D que dominou o início da década e na empolgação do Brasil com a Copa do Mundo, “Amazônia” foi o maior de todos estes projetos.

Nos últimos anos, empresas locais como a Banksia Films, de Carolina Fernandes, aliás, estão se especializando neste tipo de demanda para atender e fazer o suporte das equipes internacionais. A série do Facebook Watch, “The Curse of Akakor”, foi um exemplo destes caminhos já explorado há décadas que atingiu o auge no fim dos anos 1990 com ‘clássico’ “Anaconda”. Por outro lado, “Bandidos na TV” explorou outro viés da região (não menos exótico, diga-se): a violência urbana. Com um novo olhar sobre o caso Wallace Souza, a série tornou-se um sucesso de audiência na Netflix.

O Amazonas, porém, não despertou interesse apenas dos estrangeiros. Com a utilização de atores locais como Rosa Malagueta e Isabela Catãoa novela “A Força do Querer” e a série “Aruanas” trouxeram estrelas globais como Isis Valverde, Leandra Leal, Taís Araújo para o Estado. O cinema nacional veio com produções como o premiado “A Febre”, de Maya Da-Rin“O Adeus do Comandante”, de Sérgio Rezende, entre outras.

Atores e profissionais do audiovisual local também conseguiram importantes destaques em projetos nacionais: após diversos curtas com a Artrupe, Adanilo Reis chegou ao elenco de Mariguella, longa de estreia de Wagner Moura na direção, enquanto Fernanda Diniz participou de obras como “Papillon” e “Malévola 2”. Falando da crítica de cinema, a ex-integrante do Cine Set, Sarah Lyra, atualmente, faz parte da equipe do AdoroCinema, site mais popular de cinema do Brasil.

DO PRODAV A BOLSONARO 

Por mais que Paulinho Guedes e liberais da vida não entendam, o financiamento público é fundamental para o audiovisual brasileiro. Através de editais com série de regras consistentes para evitar qualquer desvio pelo meio do caminho e uma rigorosa prestação de contas, filmes no Brasil inteiro são feitos gerando empregos, cultura, reflexão e visibilidade para o nosso país. Detalhe: nada disso a fundo perdido, sendo pagos impostos e mais impostos.

Deixado isso claro, o cinema do Amazonas se beneficiou diretamente desta política de regionalização de editais públicos, o que fez a nossa produção dar o salto impressionante citado acima. Os filmes de Sérgio Andrade, por exemplo, foram aprovados no edital de Baixo Orçamento para Longas-Metragens do hoje extinto Ministério da Cultura.

O edital mais importante, sem dúvida, foi o Programa de Apoio ao Desenvolvimento do Audiovisual Brasileiro (Prodav) das TVs Públicas. Foram produzidas 14 séries, entre ficção, documentário, infantis e adultos. Toda uma cadeia produtiva do setor precisou se preparar para receber um aporte financeiro nunca visto antes no Estado. Projetos com orçamentos superiores a R$ 1 milhão e envolvendo dezenas de profissionais remunerados colocaram o audiovisual local em outro patamar de profissionalismo.

Atualmente, séries amazonenses como “Amazônia Legal”, “Palante”, “Meu Pequeno Mundo”, “Blog da Mari”, “Amazônia Postal” estão em exibição em TVs Públicas de todo o Brasil, levando as narrativas, cores e rostos do estado. O governo Bolsonaro, porém, coloca todos estes avanços em risco ao tentar impedir o avanço da terceira edição do Prodav com 15 projetos do Amazonas à espera da decisão de investimento.

O cenário se torna mais nebuloso dentro do Amazonas: se no começo da década, o dinheiro do governo estadual permitia a realização do AFF e do edital do Proarte, de 2014 para cá, a fonte secou. No meio da turbulência da gestão José Melo, o edital Fundo Setorial do Audiovisual/SEC não saiu do papel pela incapacidade da gestão local em conseguir garantir a destinação de R$ 1 milhão conforme o acerto com o órgão nacional, o qual daria R$ 2 milhões.

A Prefeitura de Manaus, através da Manauscult, conseguiu promover o Prêmio Manaus Audiovisual, em parceria com o FSA, premiando seis projetos. Em uma escala bem menor de investimento, o Amazon Sat realizou concurso de roteiro e ajudou no suporte de realização de curtas-metragens locais como, por exemplo, “Lembranças do Amanhã”, de Breno Pereira

Ainda no âmbito administrativo municipal, o Conselho Municipal de Cultura, finalmente, conseguiu aprovar a Lei Municipal de Incentivo à Cultura nos moldes da Lei Rouanet, abrindo novas possibilidades de investimento para a classe artística.

O RETORNO DO CINEMA AO CENTRO

Em apenas uma década, Manaus ganhou 35 novas salas de cinema comercial. Após comprar dois complexos da rede mineira Cinemais (Millenium e Manaus Plaza Shopping), a mexicana Cinépolis dominou o mercado com 26 salas, incluindo, a inauguração de 10 salas no Shopping Ponta Negra com direito a salas VIPs. O UCICine Araújo e Centerplex (projeção em 4D) também lançaram novos cinemas, levando, inclusive, pela primeira vez, uma sala comercial à zona leste da cidade.

Mesmo com as atuais 69 salas, os preços continuam salgados: os valores mais caros são registrados no Cinépolis Ponta Negra com R$ 52 para uma entrada inteira na Sala VIP 3D e R$ 70 no 4D do Centerplex, ambas no fim de semana. Complica também o excesso de sessões dubladas com as versões em áudio original sendo escondidas para tarde da noite, problemas de projeção constantes e a falta de educação de parte do público.

Apesar de boas iniciativas como o projeto Cinema de Arte, o Festival Varilux de Cinema Francês, os Clássicos do Cinemark (saudades “Psicose” e “O Poderoso Chefão” nos cinemas) e o Cine Cult, os cinéfilos de Manaus sofreram com a ausência de centenas de filmes das salas locais, incluindo, vencedores do Oscar (veja as listas de 20182017201620152014). O Cine Set chegou até a encampar uma Campanha de Filmes Alternativos em Manausconseguindo ajudar a trazer produções como Azul é a Cor Mais Quente” e “Tatuagem.

Por tudo isso, a importância da chegada do cinema do Casarão de Ideias com preços acessíveis (R$ 10 a inteira) e a exibição de produções do circuito alternativo, especialmente, filmes nacionais como os sucessos de Bacurau”, “O Processo” e “Fevereiros. Também foi o reencontro do cinema com o Centro de Manaus após mais de 15 anos do fechamento das últimas salas de propriedade de Joaquim Marinho

O interior do Amazonas também recebeu novos cinemas nesta década: Manacapuru, por exemplo, ganhou o Cine Kimak, enquanto o tradicional Cine Dib Barbosa, em Itacoatiara, até firmou uma parceria nacional, mas, o baixo público acabou levando a sala a voltar a fechar as portas. Já o Cine Oriental, em Parintins, que até chegou a ter uma promessa de ser reaberto em 2012, continua sem previsão de reinauguração.

MUDANÇAS, DESPEDIDAS E NOVOS CAMINHOS 

O cineclubismo ganhou espaço no interior do Amazonas graças ao trabalho brilhante feito por Danielle Nazareno nas comunidades do Alto Rio Negro. Através dos projetos Cine Alto Rio Negro e Cinema de Fronteiraeste reconhecido pelo Itaú Cultural, ela levou cinema, audiovisual para populações, muitas vezes, privadas deste acesso cultural.

Já em Manaus, o lendário professor Tom Zé deixou o comando do Cine Vídeo & Tarumã após mais de três décadas à frente do cineclube da Ufam. O professor de Arquivologia, Luiz Santana, é o atual coordenador do projeto de extensão. A UEA também chegou a ter um cineclube, porém, a proposta não foi adiante.

Falando em saídas, Robério Braga deu adeus à SEC após mais de 20 anos (!!) no poder. No lugar dele, vieram Denilson Novo durante a gestão Amazonino e, agora, Marcos Apolo na gestão de Wilson Lima na pasta rebatizada de Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa. A expectativa de novos editais para o audiovisual, a criação do Conselho Estadual de Cultura e a retomada da parceria entre o órgão e a UEA para um novo curso de graduação são demandas urgentes para o setor. Ainda na esteira das mudanças, Saleyna Borges também deixou a Amazonas Film Commission.

Nomes fundamentais do cinema no Amazonas nos deixaram nesta década. 2019, aliás, foi cruel ao nos tirar, entre tantos artistas queridos, o genial Joaquim Marinho, um dos mais importantes agitadores culturais da história do Estado e ex-proprietário de cinemas no Centro de Manaus, e Óscar Ramos, artista plástico de trabalho vasto tanto na MPB quanto no cinema em filmes de diretores do porte de Júlio Bressane, Ivan Cardoso, Antonio Calmon, Marcos Vinícius César, Mauro Lima, Tânia Lamarca, Thierry Ragobert e Lucho Llosa.

RESGATES HISTÓRICOS E A CRÍTICA NO AMAZONAS 

Trajetórias importantes da história do cinema no Amazonas foram resgatadas nesta década. Sávio Stoco levou o pioneiro do audiovisual na região, Silvino Santos, para a Universidade de São Paulo (USP) através da tese de doutorado dele. No Núcleo de Antropologia Visual (Navi/Ufam) em parceria com o Conselho Municipal de Cultura, Sávio ainda participou do processo de restauração do clássico “No Paiz das Amazonas”.

Já o jornalista cultural de A Crítica, Rosiel Mendonça, resgatou a passagem de Glauber Rocha pelo Estado durante a década de 1960 para realizar o documentário “Amazonas, Amazonas”O professor universitário e produtor audiovisual, Gustavo Soranz, realizou a pesquisa “Filmografia Amazonense – Análise dos filmes produzidos no Amazonas de 1960 a 1990”, financiada pela Fundação de Amparo a Pesquisa do Amazonas – Fapeam.

O objetivo de Soranz, como explicitado no Cine Set, era “identificar quem foram os produtores e diretores locais que produziram cinema em Manaus entre as décadas de 1960 e 1990, quais trabalhos foram produzidos, como foram financiados, quais redes de colaboração estabeleceram e por onde tais trabalhos circularam, dando visibilidade a uma produção ainda pouco vista, mas que representa um momento importante na história da arte e da cultura amazonense do século XX”.

Seguindo os passos trilhados pela Revista Cinéfilo, realizada por José Gaspar nos anos 1960, o Cine Set, após dois anos como blog do Portal D24AM, inaugurou site próprio em setembro de 2014, trazendo críticas, notícias, listas, artigos sobre cinema, tendo, inclusive, uma área exclusiva à produção amazonense. Integrantes do site conseguiram importantes feitos ao longo dos últimos anos: Susy Freitas tornou-se a primeira crítica do Amazonas na Associação Brasileira de Críticos de CinemaIvanildo Pereira faz parte do Congresso Nacional Nacional de Cinema (Conacine); Susy, Camila Henriques e Pâmela Eurídice integram o Elviras – Coletiva de Mulheres Críticas de Cinema, e Lucas Pistilli cobriu grandes festivais na Europa como CannesLondres e Karlovy Vary.

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